Depois de um ano à espera que o mafarrico aparecesse pró estas bandas para lhe devolver o poder, Passos percebeu o erro que cometeu e da fase do primeiro-ministro no exílio resta-lhe a bandeirinha na lapela. O problema é que quando voltou a querer assumir as funções de timoneiro encontrou o barco meio abandonado, onde apenas ficaram os arrais mais fieis, como a Teresa Leal Coelho ou o Carreiras.
Passos desdobra-se agora em comezainas de lombo assado, em jantares de mulheres social-democratas, começou com uma celebração do dia da mulher e acabou por passar o mês de março em comezainas femininas. António Costa governa durante os dias úteis da semana, Marcelo preside dia e noite todos os dias da semana, Passos aparece à hora do telejornal, no meio de jantares de mulheres social-democratas, falando da CGD ou do BES com aquele ar de gozo, de quem se julga ter piada.
O problema é que Passos não se limita a afundar o PSD e a favorecer uma Assunção Cristas que cada vez mais lidera a direita, o grande problema é que enquanto Passos faz oposição a si próprio e a Assunção Cristas faz oposição ao PSD, cabe a Catarina Martins ocupar o espaço deixado vago pela direita, assumindo-se como membro da Geringonça durante a manhã e líder da oposição à tarde, numa tentativa de ganhar votos nos dois lados.
Quanto mais a direita se desintegra mais espaço tem Catarina Martins para assumir o duplo papel de consciência ideológica da Geringonça e líder da oposição politicamente correta. Na direita a Assunção Cristas tenta crescer eleitoralmente à custa do PSD para enterrar o fantasma do Paulo Portas. Na esquerda a Catarina Martins tenta crescer à custa do PS e do PCP para confirmar o estatuto de senador de Francisco Louçã.
Daqui resulta que nem a direita faz oposição ao governo, nem o BE precisa de apoiar o governo que sustenta com o seu apoio parlamentar. Um bom exemplo desta confusão pode ser encontrado na CGD. Se a direita defendesse aquilo que sempre desejou, a privatização da CD, o BE de esquerda estaria agora preocupado em defender uma CGD bem gerida. Mas como Passos vai para os jantares das suas mulheres defender uma agência da CGD em cada aldeia, a Catarina não lhe fica atrás e disputa a Passos a defesa das agências do banco.
Seria mais lógico que fossem os partidos da oposição a fazer oposição ao governo, em vez desta balbúrdia no meio da qual António Costa e Jerónimo de Sousa são os únicos a manter a compostura.