Já vi muitas manifestações públicas nas ruas de Lisboa, junto ao BES, junto ao BdP e até junto à residência particular de Carlos Costa e não me recordo de se ter falado de estabilidade do sistema financeiro. Nem mesmo quando o BES ruiu ou quando BPI tremeu ninguém falou em estabilidade do sistema financeiro, nesse tempo a teses era qe “ai aguentam, aguentam” e enquanto os portugueses suportassem a austeridade parecia estar assegurado esse valor que é a estabilidade do sistema financeiro.
Parece que em Portugal a estabilidade do sistema financeiro não é medido nos rácios, não se avalia nos méritos de gestão, não se afere na idoneidade dos banqueiros ou no desempenho competente do regulador. No nosso país a estabilidade do sistema financeiro mede-se em decibéis, porque o negócio da banca requer silêncio e silêncios, processa-se de forma discreta. Provavelmente foi a pensar na estabilidade do sistema financeiro que o Núncio mandou silenciar os dados incómodos.
Durante décadas o tal sector bancário, de que Cavaco dizia ser um exemplo de virtudes, vivei em paz e estabilidade, todos os anos os bancos exibiam lucros, os dividendos eram pagos, os administradores enriqueciam com prémios. Raramente alguém ouvia falar um governador do BdP, que tinha menos exposição mediática do que o presidente do RioAve ou do Leiria. O país acabou por saber as consequências dessa estabilidade que escondia o oportunismo, a má gestão, a corrupção, tudo mantido em silêncio graças a essa Omertà que protegia o bom nome de todos os que participavam no negócio da banca.
Se o silêncio significa encobrimento, manter negócios duvidosos ou escolha de incompetentes longe do debate e escrutínio públicos não se está garantindo a estabilidade do sistema financeiro, antes pelo contrário, estão sendo criadas condições para que daqui a uns anos um qualquer ideólogo encomendado nos venha impingir a austeridade com o argumento de que andámos a consumir acima das possibilidades.
A estabilidade do sistema financeiro não se mede em decibéis, mede-se em competência dos gestores dos bancos, no rigor e transparência do BdP, na competência, honestidade e sentido do dever do seu governador, na separação entre banca e política, na avaliação rigorosa das suas contas e gestão por parte dos reguladores, BdP e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
No passado tivemos estabilidade e foi o que se viu, O BES tinha gente na política e faliu, o BPN rendia centenas de milhares de euros em negócios de acções de Cavaco e ruiu, o Fernando Ulrich dizia que o povo aguentava e estava enterrado na dívida grega, o Carlos Costa assegurou que a resolução do BES era uma pílula indolor e foi o que se viu. A estabilidade consegue-se com transparência e não com silêncios e opacidades.