Li e voltei a ler, precisava de ter a certeza de que o Arménio
Carlos teria escrito o que era notícia, para confirmação fui mesmo ler o artigo
original. Para terminar um longo artigo em que se percebe que os trabalhadores da
Autoeuropa já foram metidos na linha e devidamente enquadrados pela liderança
da CGTP, Arménio Carlos vai mais longe e já se considera uma espécie de CEO
político da Autoeuropa, dando instruções ao governo português e estabelecendo
metas para uma empresa alemã.
"A CGTPO
considera que este é o momento certo para discutir uma estratégia de médio e
longo prazo para a fábrica".
"Neste sentido, e no momento em que a Volkwagen já
chegou a um acordo com o Governo alemão relativamente à substituição de uma
parte da produção dos carros com motor a combustão por viaturas com motor
elétrico, assim como às condições de condicionamento da circulação dos
primeiros e apoios à comercialização dos segundos, é altura de o Governo
assegurar as condições necessárias junto da multinacional para que a Autoeuropa
seja parte integrante desta nova fase da estratégia produtiva".
Mas qual é a percentagem de capital detido pela CGTP na
Autoeuropa para que o seu líder, certamente depois de ouvir as instruções do
jerónimo de Sousa, vir considerar que “este é o momento certo para discutir uma
estratégia de médio e longo prazo para a fábrica". Mas desde quando é que
a CGTP tem por funções ou poderes para discutir o futuro de uma empresa privada,
ainda por cima de capitais inteiramente estrangeiros?
E desde quando é que um governo português decide qual o
papel de uma sucursal nacional de uma empresa estrangeira na gestão estratégica
dessa empresa?
Arménio Carlos escreveu mesmo isto, pensa mesmo isto e isso
significa que é assim que ele exige que a Autoeuropa seja gerida e foram estas
as instruções que recebeu do líder do PCP. E isto é muito mais poder do que
alguma vez um comissário político do PCUS teve dentro de uma empresa da
ex-URSS. Arménio Carlos considera que tendo o poder de paralisar a Autoeuropa
através do exercício do direito á greve, pode decidir a gestão da empresa como
se esse poder fosse equivalente a deter a maioria do capital da empresa.
Estamos perante uma tentativa ridículo de reiniciar uma
espécie de PREC através da Autoeuropa. Se o teste resultasse Arménio Carlos passaria
a ser uma espécie de super-ministro da indústria nacional, tendo o direito de cogerir
todas as empresas onde a CGTP tivesse o poder de as destruir através de paralisação.
Talvez o Arménio Carlos possa começar pelo grupo SONAE, este artigo não foi
escrito no jornal da CGTP ou no Avante, como seria de esperar, foi no jornal
dos maiores capitalistas portugueses, cujo dono morreu ainda recentemente,
curiosamente os pares de Arménio Carlos opuseram-se no parlamento contra um
voto de pesar pela morte do capitalista Belmiro de Azevedo, o fundador do
jornal que é agora a voz do PREC, enfim, é a luta de classes à antiga
portuguesa.