sábado, dezembro 09, 2017

ELEITORALISMO

Não há memória de um Presidente da República ter dito tantas vezes que ia analisar um OE com o maior cuidado como o fez Marcelo rebelo de Sousa, dava a impressão de estarmos perante um professor da primária avisando que desta vez ia corrigir a aritmética dos TPC. Quem lhe ouvia este aviso repetido com ar de ameaça que seria cumprida até poderia ficar com a impressão que nunca um presidente o tinha feito.

Agora que Marcelo devia estar cumprindo a sua ameaça, reunindo todos os sesu assessores e conselheiros, juntando inclusive os especialistas na divulgação de segredos e dos SMS dos amigos, Marcelo surpreende e fala já sobre o OE para 2019, um bom sial, significa que já esgotou os temas e que não ocorreu nenhuma desgraça ao país.

Ainda que o resultado de tanto comentário seja o fato de muito do que Marcelo diz já entrar por um ouvido e sair pelo outro, o receio de que o OE para 2019 seja “eleitoralista” é mais do que uma mera declaração de quem não tem mais nada para dizer. É sabido que Portugal tem cumprido escrupulosamente as regras orçamentais decorrentes da participação no Euro, só isso explica a escolha de Centeno para presidir ao Eurogrupo. Então o que incomoda Marcelo.

É grave que num regime democrático um residente da República sugira a mais de um ano de distância que um OE que cumpre todas as regras seja eleitoralista, como se governar a pensar nos votos dos eleitores seja algo de irregular e pecaminoso em democracia. Em democracia governa quem tem mais votos e disputar a concordância dos cidadãos, esperando que eles a manifestem nas eleições nada tem de grave ou de pecaminoso.


Se um partido concorreu com um programa, se o programa de governo corresponde à promessas eleitorais e que so OE traduz a concretização do que foi proposto onde está o eleitoralismo que tanto incomoda Marcelo Rebelo de Sousa. Alguém tem de explicar que os únicos orçamentos que não eram eleitoralistas eram os de Salazar.