Não há memória de um Presidente da República ter dito tantas
vezes que ia analisar um OE com o maior cuidado como o fez Marcelo rebelo de
Sousa, dava a impressão de estarmos perante um professor da primária avisando
que desta vez ia corrigir a aritmética dos TPC. Quem lhe ouvia este aviso
repetido com ar de ameaça que seria cumprida até poderia ficar com a impressão
que nunca um presidente o tinha feito.
Agora que Marcelo devia estar cumprindo a sua ameaça,
reunindo todos os sesu assessores e conselheiros, juntando inclusive os
especialistas na divulgação de segredos e dos SMS dos amigos, Marcelo
surpreende e fala já sobre o OE para 2019, um bom sial, significa que já
esgotou os temas e que não ocorreu nenhuma desgraça ao país.
Ainda que o resultado de tanto comentário seja o fato de
muito do que Marcelo diz já entrar por um ouvido e sair pelo outro, o receio de
que o OE para 2019 seja “eleitoralista” é mais do que uma mera declaração de
quem não tem mais nada para dizer. É sabido que Portugal tem cumprido
escrupulosamente as regras orçamentais decorrentes da participação no Euro, só
isso explica a escolha de Centeno para presidir ao Eurogrupo. Então o que
incomoda Marcelo.
É grave que num regime democrático um residente da República
sugira a mais de um ano de distância que um OE que cumpre todas as regras seja
eleitoralista, como se governar a pensar nos votos dos eleitores seja algo de
irregular e pecaminoso em democracia. Em democracia governa quem tem mais votos
e disputar a concordância dos cidadãos, esperando que eles a manifestem nas
eleições nada tem de grave ou de pecaminoso.
Se um partido concorreu com um programa, se o programa de governo
corresponde à promessas eleitorais e que so OE traduz a concretização do que
foi proposto onde está o eleitoralismo que tanto incomoda Marcelo Rebelo de
Sousa. Alguém tem de explicar que os únicos orçamentos que não eram
eleitoralistas eram os de Salazar.