quarta-feira, dezembro 13, 2017

TUDO ISTO ENOJA

Uma senhora cheia de glamour que parecia planar ao lado de damas da corte, uma associação cheia de sucesso que todos queriam financiar, premiar e visitar, um governante embeiçado e bem remunerado, massagens revigorantes num SPA de luxo, passeios apaixonados à beira-mar. A senhora exagerou na dose e agora faz companhia ao Ricardo Salgado, ninguém se deixa ver ao seu lado, os que a bajulavam agora são os piores verdugos, os que encheram álbuns de fotos comprovativos de muitos afetos exigem agora investigações pormenorizadas, como se na justiça houvesse uma ementa de investigações.

Tudo isto é pode e não estamos perante a ponta de um icebergue, isto é mais o cume de uma montanha de lixo. Não estamos apenas perante um caso de oportunismo, estamos também perante um espetáculo degradante onde são poucos os que se escapam. É tão miserável a senhora que decide tirar a barriguinha de misérias como os que lhe querem suceder, os que se zangaram depois de muitos abusos ou os que querem tomar o lugar ao lado da Leticia.

As almas caridosas do mundo empresarial que cheias de amor e afeto para dar alegravam as contas da associação com chorudos donativos e prémios de todos os tipos, os que queriam aparecer associados a uma instituição que era escolhida para visitas de cabeças coroadas dedicadas à caridade, fogem agora da associação como o diabo foge da cruz. Que se lixem as crianças e jovens deficientes, as vítimas das doenças raríssimas, vou ali e já venho.

Não sei se o senhor administrador que abandona a empresa porque a Leticia já lá não volta é menos perverso do que a bonitona que gostava de luxo. Não sei se os que à boa maneira portuguesa fizeram a cama à rapariga são mesmo almas caridosas e impolutas ou sofredores de uma doença mais nacional e menos rara do que a doença dos pezinhos, a penosa dor de corno.

Sei que tudo isto é um espetáculo degradante que nos devia enojar, que devia envergonhar os que andam a fazer de conta que de nada sabiam ou que nada viam. Estamos a assistir de novo ao espetáculo que esteve em cena na fase final do BES, quando os que iam à missa na capela do Ricardo fugiram a sete pés, quando os que adoravam animar os jantares dos banqueiros passaram a fazer de conta que o desconheciam e deram agora em voluntários das noites frias, quando os que o bajulavam e recebiam benesses se transformara num momento nos seus algozes.


Esta caso nada tem de raro, é a fotografia de muita miséria que graça na nossa melhor sociedade, sejam senhoras de boas famílias, esposas de gestores bem-sucedidos, presidentes e primeiras-damas, banqueiros, princesas e rainhas, jovens políticos ambiciosos especializados no exercício de cargos pro bono ou candidatos ministeriáveis. Tudo isto retrata a nossa miséria em todo o seu esplendor e devia ser motivo de vergonha.