quarta-feira, abril 21, 2010

O país da fartura

Se a título de mero exercício somarmos as propostas apresentadas por todos os partidos, o do governo e o das oposições, chegaríamos à brilhante conclusão, teríamos de propor à senhora Merkel um negócio original, ela ficava com as contas públicas portuguesas e nós ficávamos com as da Alemanha. Mesmo assim receio que teríamos dificuldades em respeitar o pacto de estabilidade, até porque perante a fartura os nossos estimados políticos procederiam de imediato à revisão em alta das suas propostas e objectivos.

Imaginem só com quantos aeroportos ficaríamos, se Beja tem um aeroporto comercial que vai ter menos movimento que a antiga estação das “camionetas de carreira” da cidade, não é difícil de imaginar quantos autarcas sonham com um aeroporto comercial no seu concelho. Até porque, como se sabe, um aeroporto permite promover um novo pólo de indústria aeronáutica como o sonhado para Évora. Só no Alentejo já ouvi falar de satélites da Microsoft controlados a partir de Beja, uma fábrica de aviões em Évora, mas nem tudo se perdeu, temos uma excelente barragem para regar campos de golfe em Alqueva e um aeroporto comercial no meios dos campos de girassóis de Beja, com tanta água e sorte ainda vamos ver concretizado o projecto mais emblemático do Alentejo, o sonho de todos os alentejanos um dia imaginado por um capitão do regimento de infantaria de Beja, uma praia na Messejana!

Se juntarmos as posições dos autarcas e dos diversos partidos teríamos quase todas as auto-estradas à borla, ficariam de fora apenas as que ligam Lisboa ao Porto, Algarve e Cascais. Para todas as outras há excelentes argumentos para serem à borla, por causa da interioridade, por não haver alternativa, porque o norte é beneficiado em relação ao sul, porque o sul foi esquecido por governantes do norte e, pior ainda, até o homem de Boliqueime lhe virou as costas, porque o litoral é beneficiado em relação ao interior, por causa da crise económica, etc..

Todos os impostos e contribuições baixariam, excepto a contribuição autárquica, a direita reduziria as contribuições e o IRS para os ricos, a esquerda o IRS para os pobres. Além disso todas as despesas seriam dedutíveis no IRS e quando não houvesse mais IRS para deduzir alguém se lembraria de que seria justo deduzir as despesas da casa na autárquica ou mesmo na taxa de esgotos.

Adoptando as propostas do PCP e do BE todos os portugueses teriam direito a subsídio de emprego bastando para tal a apresentação do diploma de conclusão da escolaridade obrigatória. Em contrapartida, a direita estabeleceria um patamar de lucros que todas as PME deveriam ter para criar emprego e a diferença entre os resultados e esse patamar seria compensada com subsídios.

Não só se concluiriam todas as linhas previstas de TGV como seriam reactivadas todas as linhas encerradas, desde a linha das Beiras à do Tua, além disso todas estas linhas teriam ligação ao apeadeiro mais próximo do TGV em nome da promoção do turismo do interior.

Enquanto o autarca do Porto defende que a gestão do Aeroporto Sá Carneiro deve ser entregue a um amigo local, todos os outros autarcas defenderiam que a gestão da TAP fosse entregue à Associação Nacional de Municípios pois com a crescente procura de viagens aérias por parte de autarquias que querem levar velhinhos a passear a viabilidade da companhia estaria assegurada.
Proponho um exercício, somem tudo o que os nossos políticos, incluindo os das autarquias e os dos governos regionais, defendem e propõem e depois façam as contas.