quarta-feira, abril 28, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pavão no Castelo de São Jorge, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Eduard Korniyenko/Reuters]

«SEE SPOTS RUN: A girl ran in between empty seats during a Russian Cup soccer match between Dinamo Stavropol and Krasnodar in Stavropol, Russia, Monday. » [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Manuela Ferreira Leite, deputada do PSD

Se alguém tinha dúvidas acerca do pensamento político da dama de ferro de trazer por casa que liderou o PSD tirou-as ontem na comissão parlamentar de inquérito que ela própria inspirou e na qual Pacheco Pereira junta à extrema-esquerda na esperança de vingar a líder que foi derrotada apesar de ter contado com os seus preciosos conselhos.

A visão política de Manuela Ferreira Leite é a de uma doméstica.

«A deputada e ex-líder do PSD, apertada por um interrogatório cerrado do PS (levado a cabo por Vitalino Canas), socorreu-se da sua experiência como mãe e avó: "Quando o senhor deputado [Vitalino Canas] diz que uma criança mente, não é porque alguém lhe esteja a dizer que ela sabia disto ou daquilo. É porque a criança está a dizer alguma coisa que não tem nenhuma adesão à realidade. É por causa disso que nós dizemos que uma criança mente."

Ou, dito de outra forma: era de uma "total inverosimilhança" que Sócrates não soubesse do negócio antes dele ter sido revelado (23 de Junho de 2009). Porque "é impensável que uma empresa onde o Estado tem uma golden share leve o negócio até tão longe, e de tal forma contra os interesses do Estado que ele, pelos vistos, vetou-o, e que o primeiro-ministro ou o ministros das Obras Públicas ninguém soubesse". E esse foi desde o início, acrescentou a ex-líder social-democrata, o "cerne da questão" para o PSD: se Sócrates sabia ou não sabia e se tinha ou não mentido ao Parlamento quando, um dia depois da sua revelação, garantiu que nada sabia. E, tendo mentido, porquê.» [DN]

A LIÇÃO QUE NINGUÉM QUER APRENDER

O comportamento dos mercados financeiros em relação às dívidas de alguns países europeus tornou evidente que não são apenas as regras do pacto de estabilidade que devem ser cumpridas, quem recorre ao financiamento externo tem de sujeitar-se às regras do mercado financeiro.

É uma idiotice criticar os mercados ou as agências de rating, estas fazem o trabalho que os investidores lhes pedem, estes querem saber qual o risco do negócio par determinarem os juros que exigem em contrapartida pelos empréstimos. Isso significa que não é com conversa fiada nem com manifestações de nacionalismo que se deve responder é com medidas.

O problema do país é o crescimento e este não é viável sem o reequilíbrio das contas públicas e a confiança dos investidores, quanto maiores forem os juros exigidos nos empréstimos externos necessários às empresas menor será a viabilidade financeira dos investimentos.

Não vale a pena imaginar que há espaço para políticas expansionistas, com a dívida pública a ultrapassar os limites do aceitável os efeitos perversos do aumento da despesas públicas serão muito maiores que os seus efeitos positivos.

Não há solução alternativa, ou se restabelece a confiança dos mercados financeiros custe o que custar ou os que agora fazem greves a pedir aumentos de ordenados estarão desempregados mais depressa do que julgam. A economia não se rege por sonhos ou por discursos da treta de quem acha que Portugal é a Venezuela ou Cuba, rege-se pelos mercados quer gostemos ou não.

FACTOS, SUSPEITAS E LÓGICA DA COMISSÃO DE INQUÉRITO

«Ontem foi a vez de Manuela Ferreira Leite ir à Comissão Parlamentar de Inquérito dizer porque acusou o primeiro-ministro de mentir sobre o alegado conhecimento da tentativa de compra da TVI pela PT. A ex-líder do PSD tinha especiais responsabilidades nesse depoimento, não só porque foi a primeira a apontar essa mentira (ainda antes de se saber da existência de escutas que alegadamente implicariam o primeiro-ministro) como pela responsabilidade que teve na constituição da própria comissão.

O que foi dizer aos deputados não constituiu, porém, prova. Ferreira Leite explicou que, dada a existência de uma golden share do Estado na empresa, e dada a importância estratégica do negócio, um chefe de Governo não poderia ignorar a existência de negociações, mesmo antes de elas se tornarem oficiais. E conduziu a sua intervenção num sentido que se percebe: ou José Sócrates sabia (e não terá dito a verdade); ou não sabia (e terá mostrado incompetência no cargo por não ter demitido quem não lhe prestou a informação). Sendo compreensível a argumentação, ela esbarrou num único problema: o de que a Comissão de Inquérito que foi constituída precisa de mais do que uma boa argumentação. Precisa de factos que, pelo menos, indiciem que se tratava do primeiro caso. É certo que seria improvável que a ex-líder do PSD estivesse na posse desses factos. Mas o certo é que, quando se fizerem contas no relatório final, é da existência deles (ou inexistência) que se farão as conclusões. » [DN]

Parecer:

Editorial do Diário de Notícias.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PROBLEMA DA ECONOMIA É A AUSÊNCIA DE CRESCIMENTO

«"Apesar de serem colocados no mesmo saco, o problema de Portugal é sobretudo de depressão, [porque] Portugal não cresce há 10 anos", afirmou o economista, citado pela Bloomberg, enquanto o da Grécia é "realmente um problema de finanças públicas".

"Portugal teve um problema de finanças públicas nos anos 90, mas há cerca de cinco anos foi ultrapassado", considerou, acrescentando que o foco nas finanças públicas serve para "distrair as pessoas dos problemas essenciais, que são o crescimento e a produtividade".» [DN]

Parecer:

Mas os nossos políticos da oposição e sindicalistas instalados estão mais apostados na defesa de estatutos de privilégio do que com os desempregados.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»

MANUEL ALEGRE LANÇA A SUA CAMPANHA A 4 DE MAIO

«Manuel Alegre deverá formalizar a sua candidatura a Presidente da República a 04 de maio, durante uma cerimónia em Ponta Delgada, disse hoje à agência Lusa fonte próxima do ex-vice-presidente da Assembleia da República.

Entre os principais apoiantes da candidatura presidencial de Manuel Alegre está o presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César.» [DN]

Parecer:

A asneira confirma-se.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mandem-se parabéns ao candidato com sede em Belém.»

OVOS NO PARLAMENTO UCRANANIANO

«Kiev e Moscovo acordaram em prolongar até 2042 a presença da frota russa do Mar Negro na Crimeia, sul da Ucrânia. Uma decisão que desagradou a muitos ucranianos, receosos pela soberania do país.

O acordo foi ratificado sem qualquer problema pelo Parlamento russo mas no ucraniano a história foi toda outra:voaram ovos, bombinhas de fumo e mesmo cenas de pugilato entre os deputados.» [DN]

DÍVIDA DA GRÉCIA RECEBE CLASSIFICAÇÃO DE LIXO

«A Standard & Poor’s cortou hoje o “rating” da Grécia para “junk”, o que representa um corte de três níveis, algo nunca efectuado até hoje pela agência de notação financeira.

O “rating” passou de BBB+ para BB+, sendo que esta última classificação de risco está abaixo do limiar mínimo que o BCE requer para ceder liquidez.

Até hoje, nunca a S&P tinha cortado o “rating” de um país do euro em três níveis de uma só vez. Uma classificação de “junk”, ou “lixo”, é atribuída à dívida que a agência de notação financeira considera ser provável entrar em incumprimento.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Enquanto o governo grego insiste em não dar uma resposta consistente à crise em que o país se meteu devido a excessos, truques e falsidades contabilísticas o euro e as economias mais frágeis se vão afundando. Se a Grécia abusou só lhe resta adoptar as medidas para corrigir a situação, não pode esperar que países que cumprem regras e onde os seus cidadãos se reformam mais tarde e pagam os seus impostos lhes mandem o dinheiro sem quaisquer garantias, desta vez a chanceler alemã tem razão.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-a postura irresponsável do governo grego.»

METRO DE LISBOA ESTÁ EM FALÊNCIA TÉCNICA

«O Metropolitano de Lisboa encontra-se em "falência técnica", revela uma auditoria do Tribunal de Contas, que denuncia ainda a "apatia do Estado" face à situação da empresa.

O Metropolitano de Lisboa enfrenta, "à semelhança" das outras "empresas públicas prestadoras de serviço público de transporte urbano", uma situação económico-financeira "degradada", segundo a auditoria divulgada hoje, terça-feira, pelo Tribunal de Contas (TC).» [JN]

Parecer:

Aumentem os bilhetes porque os contribuintes não podem suportar tudo e mais alguma coisa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se.»

É TUDO UMA QUESTÃO DE PREÇO

Transcrição do post "A taxa Camarae do papa Leão X" publicado no "Diário Ateísta"

«Um dos pontos culminantes da corrupção humana

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados, a todos quantos pudessem pagar umas boas libras ao pontífice. Como veremos na transcrição que se segue, não havia delito, por mais horrível que fosse, que não pudesse ser perdoado a troco de dinheiro. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado uma ou várias pessoas, abortado… desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

Vejamos o seus trinta e cinco artigos:

1. O eclesiástico que cometa o pecado da carne, seja com freiras, seja com primas, sobrinhas ou afilhadas suas, seja, por fim, com outra mulher qualquer, será absolvido, mediante o pagamento de 67 libras, 12 soldos.

2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, quiser ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deve pagar 219 libras, 15 soldos. Mas se tiver apenas cometido pecado contra a natureza com meninos ou com animais e não com mulheres, somente pagará 131 libras, 15 soldos.

3. O sacerdote que desflorar uma virgem, pagará 2 libras, 8 soldos.

4. A religiosa que quiser alcançar a dignidade de abadessa depois de se ter entregue a um ou mais homens simultânea ou sucessivamente, quer dentro, quer fora do seu convento, pagará 131 libras, 15 soldos.

5. Os sacerdotes que quiserem viver maritalmente com parentes, pagarão 76 libras e 1 soldo.
6. Para todos os pecados de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo; no caso de incesto, acrescentar-se-ão em consciência 4 libras.

7. A mulher adúltera que queira ser absolvida para estar livre de todo e qualquer processo e obter uma ampla dispensa para prosseguir as suas relações ilícitas, pagará ao Papa 87 libras e 3 soldos. Em idêntica situação, o marido pagará a mesma soma; se tiverem cometido incesto com os seus filhos acrescentarão em consciência 6 libras.

8. A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.

9. A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.

10. Se o assassino tiver morto a dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.

11. O marido que tiver dado maus tratos à sua mulher, pagará aos cofres da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, pagará 17 libras, 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.

12. Quem afogar o seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos [ou seja, mais duas libras do que por matar um desconhecido (observação do autor do livro)]; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.

13. A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.

14. Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.

15. Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e y6 dinheiros.

16. O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.

17. O bispo ou abade que cometa homicídio põe emboscada, por acidente ou por necessidade, terá de pagar, para obter a absolvição, 179 libras e 14 soldos.

18. Quem quiser comprar antecipadamente a absolvição, por todo e qualquer homicídio acidental que venha a cometer no futuro, terá de pagar 168 libras, 15 soldos.

19. O herege que se converta pagará pela sua absolvição 269 libras. O filho de um herege queimado, enforcado ou de qualquer outro modo justiçado, só poderá reabilitar-se mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos, 9 dinheiros.

20. O eclesiástico que, não podendo saldar as suas dívidas, não quiser ver-se processado pelos seus credores, entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 dinheiros, e a dívida ser-lhe-á perdoada.

21. A licença para instalar pontos de venda de vários géneros, sob o pórtico das igrejas, será concedida mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 dinheiros.

22. O delito de contrabando e as fraudes relativas aos direitos do príncipe contarão 87 libras e 3 dinheiros.

23. A cidade que quiser obter para os seus habitantes ou para os seus sacerdotes, frades ou monjas autorização de comer carne e lacticínios nas épocas em que está vedado fazê-lo, pagará 781 libras e 10 soldos.

24. O convento que quiser mudar de regra e viver com menos abstinência do que a que estava prescrita, pagará 146 libras e 5 soldos.

25. O frade que para sua maior conveniência, ou gosto, quiser passar a vida numa ermida com uma mulher, entregará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.

26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem travas pagará o mesmo montante pela absolvição.

27. O mesmo montante terá de pagar o religioso, regular ou secular, que pretenda viajar vestido de leigo.

28. O filho bastardo de um prior que queira herdar a cura de seu pai, terá de pagar 27 libras e 1 soldo.

29. O bastardo que pretenda receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 dinheiros.

30. O filho de pais incógnitos que pretenda entrar nas ordens pagará ao tesouro pontifício 27 libras e 1 soldo.

31. Os leigos com defeitos físicos ou disformes, que pretendam receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagarão à chancelaria apostólica 58 libras e 2 soldos.

32. Igual soma pagará o cego da vista direita, mas o cego da vista esquerda pagará ao Papa 10 libras e 7 soldos. Os vesgos pagarão 45 libras e 3 soldos.

33. Os eunucos que quiserem entrar nas ordens, pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.

34. Quem por simonia quiser adquirir um ou mais benefícios deve dirigir-se aos tesoureiros do Papa que lhos venderão por um preço moderado.

35. Quem por ter quebrado um juramento quiser evitar qualquer perseguição e ver-se livre de qualquer marca de infâmia, pagará ao Papa 131 librase15 soldos. Pagará ainda por cada um dos seus fiadores a quantia de 3 libras.

No entanto, para a historiografia católica, o Papa Leão X, autor de um exemplo de corrupção tão grande como o que acabamos de ler, passa por ser o protagonista da «história do pontificado mais brilhante e talvez o mais perigoso da história da Igreja».

(Fonte: Rodríguez, Pepe (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica.Terramar – Editores, Distribuidores e Livreiros -(1.ª edição portuguesa, Terramar, Outubro de 2001 – Anexo, pp. 345-348)»

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