terça-feira, novembro 19, 2013

Elites oportunistas

A defesa que muita gente faz de uma estratégia económica assente em salários baixos ou mesmo miseráveis revela muito bem o carácter oportunista de algumas das nossas elites. Esta gente não está preocupada com a situação financeira do país a não ser pelo facto de lhes provocar alguns danos, querem muito mais do que uma economia estável, querem um país de gente pobre, sem cultura e que ganhe miseravelmente.

Um modelo económico assente em salários miseráveis tem consequências que vão para além da competitividade de sectores de mão-de-obra intensiva, tem consequências sociais e culturais que vão muito para além dos indicadores relativos ao défice. Mesmo no plano económico essa gente ainda não explicou como é eu indústrias que vivem se salários miseráveis, que exportam produtos sem grande valor acrescentado, vão criar os excedentes de riqueza que permitirão reduzir a dívida.

A escolha deste modelo miserável por parte de algumas elites da capital nada tem de ingénuo, um sociólogo que trabalhe para um grand merceeiro tem muito a ganhar se os trabalhadores do merceeiro ganharem miseravelmente, a mercearia terá mais lucros e poderá pagar bem aos que estão disponíveis para fazerem fretes políticos que permitam ao merceeiro ajudar os seus a ganharem eleições.
  
Estas elites não apreciam sociedades competitivas, onde o sucesso esteja associado ao desempenho, estas sociedades são menos injustas, tendem a apresentar uma distribuição de rendimentos mais equitativas, a corrupção em todas as suas formas encontra menos condições para se impor. Trabalhadores e empresários mais qualificados são mais cultos, esclarecidos e exigentes, são tudo o que os oportunistas e corruptos menos desejam.
  

Os que defendem os salários baixos estão exigindo um país com um povo menos culto, menos qualificado, mais fácil de manipular com recurso a centrais de propaganda, mais influenciável pelos folhetins inventados p«elos Monizes e respectivas esposas. O que esta gente quer é manter um sistema económico em que a prioridade em vez de ser o crescimento da riqueza seja a manutenção dos mecanismos sociais que assegurem que uns quantos consigam ficar com a riqueza dos outros.
  
O que essa gente quer é que os cavaquistas de futuros BPNs continuem a ficar ilesos, que os desequilíbrios orçamentais sejam corrigidos com cortes salariais e impostos sobre os que menos ganham, que os mecanismos da corrupção continuem ilesos ou que os mecanismos da justiça continuem ao serviços dos golpes de Estado. O que esta gente deseja é um modelo económico miserável que assegure a continuação dos seus privilégios.