sexta-feira, janeiro 05, 2007

Dois casos


Como filho de pescador não posso ficar indiferente à morte dos pescadores junto às praias da Nazaré, é necessário perguntar se foi feito tudo o que era possível, se este país está a dar a devida atenção aos homens do mar. É evidente que os recursos são escassos e que um modelo de salvamento assente em meios aéreos concentrados nas respectivas bases pode ser insuficiente.

Mas este acidente, como um outro ocorrido recentemente perto de Sines, leva-nos a pensar se a ganância de alguns patrões, mestres de embarcações e pescadores não está a ir longe de mais, colocando em risco as embarcações e vidas. .

Como explicar que a balsa estivesse presa nas redes que estavam precisamente na zona da rebentação? É evidente que nessas condições o salvamento seria difícil, os pescadores nunca poderiam usar as balsas e ficaram à mercê do mar e da hipotermia, já que em Portugal insiste-se em ir para a pesca com a mesma roupa que serve para cavar batatas, a morte era uma questão de tempo, muito menos do que aquele que os meios aéreos tardaram para intervir.

Não há sistema de segurança que possa acorrer a este tipo de situações. Pescador é uma profissão de alto risco e quando se transige em regras desegurança esse risco cresce exponencialmente. Pescar na zona da rebentação é como circular numa auto-estrada no sentido inverso, o acidente ocorrerá mais tarde ou mais cedo.

Enquanto todos se aproveitavam da morte dos pescadores o líder do Bloco de Esquerda aproveitou-se dos emigrantes para propor turmas bilingues, isto é, turmas com dois professores ou com um professor e um especialista em tradução simultânea. Imaginem um professor a explicar um verbo e o outro a explicar o mesmo verbo, mas traduzindo-o para ucraniano. Não sei se Louçã também propôs que o tempo das aulas fosse duplicado ou os critérios para escolher os alunos portugueses que iria aprender uma segunda língua.

É evidente que Louçã não corre o risco de ter um filho a chegar a casa misturando português com crioulo e outro a pedir-lhe para lhe explicar as coisas em ucraniano porque a professora que ensinava nesta língua era melhor do que a que explicava em português. Da mesma forma que usa o ginásio da classe média alta é muito provável que não tenha filhos em escolas como a que visitou.

Foram dois casos destes dois dias, talvez não haja relação entre ambos a não ser que se diga que em ambos alguém decidiu pescar em águas turvas, nas duas situações o lucro fácil parece estar presente. Infelizmente, na Nazaré morreram seis pescadores, no caso de Louçã foi o assunto que morreu numa onda de sorrisos amarelos e das suas propostas utópicas não vem mal ao mundo.