O dr. Paulo Teixeira Pinto solicitou uma audiência ao Procurador-Geral para apresentação de cumprimentos e este concedeu-a e lá estavam os jornalistas para filmar o distinto presidente do Millennium à saída. Uma dúzia de gestores bem pagos organiza uma cerimónia no Beato e o país passa uma semana a discutir propostas que nenhum partido vai assumir e até o Presidente da República recebe o presidente da Vodfafone investido na s funções de representante da nova inteligência lusa.
O primeiro-ministro inaugura cem metros de auto-estrada e vai carregar no botão sempre que o Belmiro de Azevedo faz uma qualquer implosão (aguardemos pela implosão da PT), o ministro da Saúde vai explicar a meia dúzia de médicos como funcionam o controlo electrónico da assiduidade, o ministro do Trabalho e Solidariedade Social vem explicar como morreu a Sofia e o da Economia organiza uma cerimónia pública cada vez que se inaugura uma mercearia.
O relacionamento entre o poder e os cidadãos e as empresas é o típico de uma junta de freguesia, a comunicação social actua como um jornal local transformando o mexerico em acontecimento nacional, os ministros transformam-se em governantes de trazer por casa, o país tende a transformar-se numa autarquia. As nossas televisões dedicam a véspera do Ano Novo a contar os foguetes que vão ser disparados e começam um ano com um filme pornográfico para que os portugueses iniciem o ano aliviando as suas mágoas.
Se ao nível nacional todos nos comportamos como se Portugal fosse uma junta de freguesia, o contexto internacional também aponta nesse sentido, muito do que influencia o país é consequência da decisão de terceiros. Não são os portugueses que elegem o presidente dos EUA mas este influencia mais a sua vida do que o nosso presidente da República, foi ele que marcou a vida do país nos últimos anos e ainda andamos enrolados a tentar saber quantas vezes a CIA usou os aeroportos ou o espaço aéreo nos seus voos “turísticos” com destino a Guantánamo.
A política monetarista do Banco Central e o constrangimentos decorrentes do Pacto de Estabilidade e Crescimento reduzem a política económica a pouco mais do que a uma gestão de mercearia, a maior ambição de um ministro das Finanças é ouvir um elogio de Joaquín Almunia (Comissário Europeu para os Assuntos Económicos e Monetários) e qualquer funcionário da Comissão fala de Portugal como se fosse o presidente da FPF a referir-se ao Gil Vicente.
É um facto que somos um pequeno país, das dimensões geográficas que a história nos reservou não nos podemos livrar, mas poderíamos ser um povo com a grandeza que gostamos de evocar para espantar as vergonhas que nos afligem, poderíamos ter mais ambição e evitar a pequenez em que nos estamos a transformar.