(imagem enviada por AM/Quebeque)
No debate que em torno do referendo da interrupção voluntária da gravidez nada se vai aprender, se, por um lado, as campanhas recorrem a argumentos de honestidade ou qualidade duvidosa, por outro, trata-se de um tema que qualquer cidadão comum conhece bem pouco há a esclarecer. Neste país não é necessário ter a quarta classe para se saber quanto custa, onde se faz e os riscos de fazer um aborto, o aborto clandestino faz parte do quotidiano dos portugueses.
Os responsáveis pelas campanhas parece ainda não terem percebido que ganha o referendo quem levar mais cidadãos a votar já que quase todos os portugueses têm posição definida. O referendo não vai ser decidido pelos que mudam de opinião, mas sim pelos que não votarem como, aliás, já sucedeu no referendo anterior.
Do lado do sim as atitudes mudaram, os militantes mais activos já perceberam que os espectáculos lastimáveis e hipócritas do género “a barriga é minha” não convenciam ninguém, davam um imagem triste dos que defendem o sim. Imagens como a que coloquei em cima eram desastrosas. Também não faz o mínimo sentido, como o fez uma conhecida personalidade do sim, tentar provar que a Bíblia não condena o aborto, nenhum católico praticante muda de opinião depois de ouvir esse argumento.
E se as campanhas do sim tendem para imagens de mau gosto, a campanha do não está desta vez a caracterizar-se pela hipocrisia, chegando ao ponto de deixar cair o véu do argumento da defesa da vida, dando a entender que muitos dos que defendem o sim estão mais preocupados com as próximas legislativas (como já tinha sucedido no referendo anterior, em que a vitória do sim foi transformada numa vitória política de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o governo de Guterres) ou em impor as suas convicções ao paí do que com a vida seja de quem for. É o que aconteceu, por exemplo, com Paula Teixeira Pinto, que ainda ontem afirmou "Liberalizado está o aborto agora.". Isto é, para a conhecida militante do PSD não está em causa a realização do aborto, o que a preocupa é que sejam feitos em condições medievais, porque assim já não lhes incomodam a sua consciência.
Quando se defende o não porque os casos de morte não são muitos, porque as condenações em tribunal não sucedem ou porque a legalização tem custos para o Estado, significa que o importante não é a defesa da vida, o que importa são as aparências, não se mude a a lei porque apenas é eficaz para que os abortos não possam ser feitos às claras. O “sim” aprendeu e deixou de fazer figuras tristes, o “não” evita a todo o custo o facto de ter esquecido a defesa a vida desde o último referendo. Ambos erram ao preocuparem-se mais com os que defendem a posição contrária do que em levar às urnas os que partilham as suas opiniões.
Agora resta esperar para ver quem consegue levar mais partidários às urnas, duvido que seja o António Borges a falar da economia do aborto ou uma das líderes do sim a dissertar sobre teologia.