A invasão do Iraque parecia um mini Lisboa-Dakar, os tanques avançavam a mais de cem à hora pelas areias planas do deserto, entraram em Bagdade em ambiente de festa, parecia um 25 de Abril árabe, a comunicação social desdobrava-se em imagens de iraquianos com cartazes a agradecer a Bush. Fizeram eleições festejadas pelos partidários da invasão por todo o mundo, criticaram os que se tinham oposto à guerra, orgulhavam-se da primeira democracia no mundo árabe.
Agora as tropas americanas enterram-se num lodaçal de areia, os polícias que treinaram são forças da ordem em serviço e terroristas nas folgas, metade dos ministros são aliados da América no poder e inimigos nas ruas.
Os defensores da invasão asseguravam que o Iraque não iria ser um Vietname, tinham razão, é e vai ser pior. Os soldados não enfrentam a humidade das florestas, suportam temperaturas próprias ara estrelar ovos enfiados em tanques e são estufados em fardas e coletes. Não receiam as armadilhas na floresta, receia todos os iraquianos com que se cruzam nas ruas, desde crianças a velos. Não vivem em buracos no meio da floresta do Vietname e têm o conforto de bases que lhes dão a sensação de estar na América, mas vivem prisioneiros nessas bases e fora delas não têm um palmo de terra onde gozar a liberdade.
Não Vietname as tropas americanas partiram de repente e abandonaram um país que ficou em paz, no Iraque estão a enviar dezenas de milhares de soldados ara encontrar uma solução para saírem. Quando abandonarem um Iraque vão deixar um país desorganizado, inviável, em guerra civil e, pior do que tudo isso, um país bem pior do que o de Saddam Hussein. Queriam vencer um inimigo da família Bush e inventaram um inimigo do mundo, pretendiam defender os seus interesses na região e vão deixá-los vulneráveis aos seus piores inimigos.
Os mais de 21.000 soldados americanos que Bush vai enviar para o Iraque não vão resolver problema algum, não passarão de mais alvos para o terrorismo e quantos ais alvos maior será o número de vítimas. Cada vez mais me interrogo como um povo que tem as melhores universidades meteu na Casa Branca o filho mais burro da família Bush, da mesma forma que não entende como alguns dos nossos intelectuais, como Pacheco Pereira, se esforçam tanto para tornar inteligíveis as decisões de tão grande idiota.