Multiplicam-se os artigos de opinião dos que em tempos apoiavam as tropas que iam encontrar as armas de destruição maciça, os mesmos que mais tarde partilharam da alegria de Bush quando o ditador foi preso, também os mesmos que celebraram a implantação da democracia quando se realizaram eleições do Iraque, novamente os mesmos que criticaram Zapatero por ter retirado as suas tropas.
O espectáculo da execução de Saddam incomodou-os, lá tentaram criticar a pena de morte e alguns até foram mais afoitos e criticaram mesmo a execução, mas o que os incomodou foi terem percebido que na plateia estavam polícias ligados ao mais extremista dos xiitas e inimigo confesso dos EUA. A execução não foi nem um exercício de justiça nem a vitória sobre a barbárie, não teve qualquer semelhança com Nuremberga, foram criminosos a executar outro criminoso, os mesmos crimonos que matam americanos nas ruas de Bagdad.
Se a execução fosse feita com decência e o ditador tivesse implorado enquanto fazia xixi nas calças os nossos defensores amigos de Bush, que lidam com a guerra como se estivessem a jogar à distância com uma consola Xbox, estariam eufóricos, teria sido uma grande vitória, as imagens justificariam o pecadilho da execução. Mas não foi, um dos homens que mais conviveu com a morte teve tempo para se preparar para ela, usou a única arma de destruição maciça de que dispunha, uma pose irritante e uns versículos do livro sagrado, o suficiente para se tornar num mártir sunita.
Sejamos honestos, no Iraque não há democracia nenhuma e nem é necessário discordar do governo para que tarde menos tempo a ser executado do que o que Saddam teve que aguardar, aliás, basta morar no local errado, ser xiita num bairro sunita, ou sunita numa cidade xiita, para ser condenado à morte. E não são só os catalogados por terroristas que matam, são todos, a começar por esquadrões da morte constituídos por polícias treinados por ocupantes ingénuos.
O que restar do Iraque vai ser o que era quando tudo começou, uma ditadura, uma ditadura de xiitas que unidos ao Irão são um perigo para os aliados locais dos EUA, um perigo bem maior do que era Saddam Hussein. A democracia que Bush queria que se tornasse num modelo para os muçulmanos vai acabar provocando mais vítimas do que a ditadura de Saddam, vai ser o modelo do que nenhum muçulmano não quer.
O idiota do George Bush mandou matar mais de 3.000 jovens americanos, lançou o caos no mundo, transformou o terrorismo num exército organizado à escala mundial, fez tudo isso para colocar o Iraque sob a influência do Irão. Veremos o que vai suceder aos sunitas ou aos cristãos do Iraque, e nem vale a pena falar dos curdos pois esses sempre foram vítimas da história, foram vítimas dos turcos, foram-no dos sunitas e vão ser dos xiitas.
E como se tudo isto fosse pouco os EUA perderam a credibilidade enquanto potência militar, as suas bombas são eficazes em países onde existe uma opinião pública que pensa como no Ocidente. Foram eficazes na Sérvia, mas não serão em nenhum país onde a alternativa a morrer com uma bomba é morrer de fome, onde a esperança de vida passou a ser esperança de sobrevivência ou onde a religião oferece a felicidade que a vida não proporciona. Perderam na Somália, vão perder no Iraque e perderão no Irão se o Bush for suficientemente idiota para se ir lá meter.
Lembro-me de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, ter comparado a invasão do Iraque a um pontapé num formigueiro. Estava-se mesmo a ver o resultado. não venham agora teorizar sobre o infortúnio, quem apoiou a invasão do Iraque é co-responsável pela morte de mais de 3.00 jovens americanos de de muitos milhares de iraquianos. Mas estejam descansados, nunca serão julgados e se houverem vítimas de terrorismo no Ocidente o mais provável é que sejam cidadãos anónimos que nunca foram convidados para um beberete na Embaixada dos Estados Unidos da América, e se algum dia tiverem que morrer soldados portugueses numa qualquer batalha contra os terroristas vão ser soldados anónimos que se fizeram voluntários para ganharem mais algum dinheiro para ajudar a pagar a casa ao banco.