É raro o dia que Portugal não é abanado por uma notícia que lembra que neste país está tudo mal nada funciona como os portugueses desejariam. Num dia é um tribunal que arrasta decisões sobre poder paternal dando tempo para que a criança quase chegue à maioridade, no outro foi o salvamento de pescadores que falhou, em Odemira morre-se como se os seus habitantes vivessem no coração do Saara.
Há anos que é assim e os portugueses reagem sempre da mesma forma, como se fossem menores de idade e os culpados são sempre os que têm a tarefa de cuidar deles, os políticos, os médicos, os professores, os juízes, os funcionários do fisco, etc.. Os portugueses são uns azarentos, somos um povo simpático e tudo nos acontece.
Só que se somos escolhemos políticos e incompetentes ou corruptos, se temos medo de criticar o que se passa à nossa volta porque o conformismo e a cobardia é mais rentável do que a indignação, se somos incapazes de exercer na plenitude os nossos deveres de cidadania, a culpa é nossa, temos o país que somos.
Veja-se por exemplo o caso do Eng. Cravinho, se parte muito triste por deixar um combate importante para o país então porque parte? Não nos vai convencer que vai para um alto cargo em nome dos interesses do país, vai porque lhe convém, porque o seu interesse pessoal está acima das lutas que ele próprio considera fundamentais.
Talvez seja tempo de os portugueses deixarem de encontrar culpados, esquecerem pequenas diferenças e tomarem nas mãos o desenvolvimento do país.
PS:
Soube-se pelo Correio da Manhã de hoje que há funcionários do fisco que ganham mais de 20.000 euros anuais pagos por bancos a título de "formação". Estou mesmo a ver que havia gente da CML a dar aulas de urbanismo na Bragaparques e um dia destes algum homicida vai justificar-se dizendo que a sua profissão é ensinar tiro ao alvo.
O inevitável Saldanha Sanches veio com uma proposta peregrina, propôs um subsídio de exclusividade para os funcionários do fisco, esquecendo que existem regras quanto a autorizações para trabalhar, que há incompatibilidades óbvias e que nenhum destes "professores efectivos" foi obrigado a trabalhar na DGCI. O homem que tanto falou de corrupção no fisco teve agora uma crise aguda de ingenuidade.
O importante seria saber se os tais professores não serão os mesmos altos quadros que ajudaram os seus "patrões das hora livres" a subtraírem muitos milhões de contos ao erário público, graças a doutos pareceres de duvidosa honestidade intelectual, como sucedeu com um famoso reembolsos de IVA concedido ao Millennium, como foi denunciado num relatório da própria IGF.
Na próxima segunda-feira voltaremos a esta questão.