segunda-feira, janeiro 15, 2007

Funcionários, filantropos ou mercenários?


Com a questão do vencimento do director-geral dos Impostos corremos o risco de instituir o direito à asneira, tantas são as que temos ouvido nos últimos dias. Não vou, por agora avaliar, o trabalho do dr. Macedo, apenas refiro que todas as taxas de crescimento que ele próprio divulga reportam-se a anos de referência em que ele próprio era director-geral, ou então em relação ao ano anterior, um dos piores na história do fisco, isto é, o segredo do sucesso do dr. Macedo está no facto dele ser melhor do que ele próprio.
Toda a gente avalia o dr. Macedo dizendo que o seu trabalho é excepcional, esquecendo que é excepcional por comparação com um péssimo trabalho dele próprio. É evidente que se pode argumentar que há uma evolução, da mesma forma que se pode responder que o dr. Macedo foi o grande beneficiário da modernização da máquina fiscal iniciada por Sousa Franco e dos muitos milhões de contos que Manuela Ferreira Leite investiu na informática.

É triste ver um ministro das Finanças, que todos os dias se deita e acorda a pensar na forma de cortar nos rendimentos os funcionários públicos, incluindo os do Fisco, aparecer de forma quase subserviente garantir que dará as cambalhotas necessárias para violar uma lei do seu próprio governo. O comportamento do ministro das Finanças é ofensivo para os funcionários públicos e, em especial para os seus dirigentes, muitos deles mais competentes que o dr. Macedo, mas que conseguem ver nas suas funções o exercício uma dimensão de serviço público, e não recorrem aos poderes ocultos do Millennium e da Opus Dei.

É triste ver os políticos da treta deste país a renderem-se a um manipulação abusiva da informação, ao ponto do dr. Macedo se dar ao luxo de violar a constituição, promovendo uma missa que nem no tempo de Salazar alguém se lembrou de promover. Foi triste ver o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a participar na missa sentando-se envergonhado na última fila e o ministro a usar o argumento idiota de que a sua celebração tinha sido à borla tentando provar algo que que ninguém entendeu. O Estado português está assim tão de rastos que qualquer um possa fazer o que lhe apetece desde que isso não tenha custos para o erário público? Está assim tão rendido ao supranumerário para que este viole a Constituição e se arme em apóstolo do rebanho fiscal?
E ninguém repara que o dr. Macedo é um profissional vinculado ao Millenniu, um banco que é um dos grandes clientes do contencioso da DGCI, que está sob suspeita no âmbito da Operação Furacão e que ainda recentemente subtraiu uns largos milhões de euros num processo que a IGF considerou fraudulento? Se o dr. Macedo é um mercenário então é preciso dizer que na Administração Pública há gente competente para gerir a DGCI, mas se é um mecenas que veio salvar o fisco, então que seja o Millennium a pagar-lhe o ordenado com os muitos milhões de euros que tem subtraído ao fisco por processos manhosos.
Mas ver um governo que ainda há pouco tempo era acusado de peronista por João Salgueiro tentar manter no fisco um “comissário” do Millenium e ainda por cima pagar-lhe segundo critérios próprios de mercenários é inadmissível. Como se explica que haja tanta gente a defender que o director-Geral dos Impostos de um país cujo Governo põe os cidadãos a andar de alpargatas ganhe mais do que o presidente dos EUA (310.245€), muito mais do que Tony Blair (270.417€) e quase o triplo daquilo que ganha Jacques Chirac (72.800€ fonte) ou Zapatero (87.500€ fonte).
O Governo faça o que entender, pague ao sr. Macedo o que quiser, mande as suas próprias leis para o lixo, mas não goze com aqueles que sujeitos a sucessivos cortes dos seus vencimentos insistem em dar o seu melhor em nome de um conceito de serviço público.