Ao contrário dos que fazem insinuações em relação ao Caso dos Submarinos, sugerindo as mais variadas críticas sobre o desempenho dos procuradores, defendo que neste caso a justiça portuguesa está de parabéns. A ser um caso exemplar só o pode ser por boas razões.
A Justiça foi corajosa, arquivou o processo muito pouco tempo depois de se saber que na caverna do Ali Baba da Comporta foram distribuídos milhões pelos membros dos vários ramos do gangue por conta do negócio dos submarinos e que outros tantos milhões foram distribuídos não se sabe bem por quem. Isto significa que não duvidando da bondade do pessoal da Comporta a Justiça dispensou-se de mais investigações sobre estas comissões, deixando isso para entretenimento dos deputados.
A Justiça soube proteger exemplarmente o segredo de Justiça e desta vez nem mesmo a Felícia Cabrita, uma verdadeira Mata-Hari na espionagem ao Ministério Público, conseguiu a mais pequena dica sobre os meandros da investigação. On país estava na expectativa de saber coisas importantes como a cor das cuecas do Paulo portas, mas nem isso conseguiu saber-se, os segredos da investigação vão morrer com os investigadores, que se Deus quiser andarão cá por muitos e bons anos.
A Justiça evitou o alarme público não passando a ideia de que em Portugal só se aproveitam os magistrados enigmáticos e que todos os outros portugueses ou são corruptos ou só não o são porque não tiveram oportunidade. Apesar das suspeitas vindas da Alemanha e de muitas outras sugestões e insinuações que se iam ouvindo a Justiça manteve-se em silêncio e foi fazendo o seu trabalho de investigação, deixando passar uma imagem de tranquilidade de que o país precisa.
A Justiça evitou a tentação de exibir políticos suspeitos em pelourinhos públicos, optou pela solução mais sensata que é primeiro investigar e só mediante provas chegar Às conclusões. Recusou a tentação de prender político com base em indícios, ódios ou preconceitos porque nas sociedades modernas as condenações assentam em provas e são estas que fundamentam a acusação. A justiça não partiu de suspeitas preconceituosas como nos tempos do Santo Ofício.
A Justiça manteve-se recatada, os sindicalistas que fazem congressos luxuosos por conta do alto patrocínio do Ali Baba da Comporta manteve-se em silêncio , a Procuradora-Geral não festejou a forma exemplar como o processo decorreu e muito menos uma qualquer condenação em primeira instância.
Poderiam ser enumerados ainda mais motivos para elogiar a nossa Justiça que não só continua a mostrar que a impunidade acabou de forma pedagógica a demonstrar que os julgamentos não são feitos em pelourinhos e que as acusações não partem de meras denúncias de bruxaria como nos tempos da Inquisição. Temos uma Justiça como deve ser em que todos os que nela participam, incluindo os sindicalistas, se comportaram de forma exemplar.
Os que queriam que a justiça condenasse primeiro e provasse depois, os que esperavam a devassa do segredo de justiça, os que desejavam um processo julgado no CM com um jurado do Sol perderam, graças aos nossos magistrados a justiça venceu. O único mal que se pode apontar à nossa Justiça, neste como em quase todos os casos em que não tenha ocorrido um flagrante delito, é a incapacidade de afirmar claramente se os arguidos estão inocentes, se houve ou não crime e se a falta de conclusões se deve à arte dos criminosos ou à incompetência ou falta de recursos dos magistrados. Mas do mal o menos, se a justiça não funciona às mil maravilhas ao menos não destrói a sociedade e a democracia com a cobardia dos seus agentes, estão de parabéns.