A não ser que se queira regressar ao tempo das estradas onde mal cabia um camião o país não pode prescindir daquilo a que o ainda primeiro-ministro designa pejorativamente obras faraónicas. Não direi que o discurso de Passos Coelho em matéria de obras públicas é digno do salazarismo porque no tempo do outro regime foram feitas obras como o porto de Leixões, a barragem de Castelo de Bode, a ponte sobre o Tejo, obras que para os padrões da época não estariam atrás de qualquer outra feita posteriormente.
O país carece de uma rede de transporte ferroviário de mercadorias com uma bitola europeia que ligue os nossos portos e as nossas zonas industriais aos mercados europeus e a outros portos europeus, cerece de um porto de Lisboa moderno, liberto dos constrangimentos da cidade e com taxas e taxinhas portuárias competitivas, isto para referir apenas duas obras inquestionáveis.
Esta oposição doentia a qualquer obra que não seja uma estradinha estreita decorada com eucaliptos revela não um político austero e poupado mas sim um político ignorante que apela aos falsos valores do salazarismo ara justificar as suas opções. É uma pena que Passos Coelho não aplique aqui os seus raciocínios simplistas de confusão de uma família com o país, perceberia que as famílias á vezes têm de investir numa casa maior ou num carro novo.
A questão não está em recorrer a argumentos ruralistas, o problema do desenvolvimento de um país é bem mais sério do que um discurso de aldeia para comemorar uma qualquer efeméride partidária. Mesmo com grandes constrangimentos financeiros o país tem de fazer opções e fazer opções correctas é incompatível com discursos de jantaradas sem qualquer seriedade.
Mesmo que a opção seja fazer obras pequenas o país tem de pensar grande e para isso precisa de um primeiro-ministro com uma grandeza que Passos Coelho insistem em não ter, mesmo depois de estar no governo há mais de três anos continua a ser frustrante ouvir as patacoadas de alguém que foi talhado para ser pequeno e a única coisa faraónica que consegue trazer ao país é a sua própria ignorância e irresponsabilidade na abordagem de temas para os quais não está devidamente preparado.