quarta-feira, dezembro 24, 2014

Carta de Natal à Senhora Procuradora-Geral da República

  
Este ano decidi actualizar-me e a carta com os meus desejos terrenos não será enviada ao menino Jesus e nem mesmo ao Pai Natal, o meu paganismo teve um ataque de nacionalismo tuga e vou contar os meus desejos mais pecaminosos à Procuradora-geral Joana Marques Vidal. Não comecem a pensar coisa pois quando digo desejos pecaminosos não estou a pensar em maldades (Deus me livre de tais pesadelos), estou antes a imaginar-me a pecar com coisa materiais como o pecado da gula, pro exemplo.
  
Então porque motivo vou escrever à Procuradora-Geral em vez de escrever ao menino Jesus? Bem, o meu ateísmo ainda não deu para desconfiar que o menino Jesus não sabe ler e a minha generosidade não me leva a contar os meus segredos à senhora Procuradora-Geral em sinal de reconhecimento e recompensa pela imensidão de segredos de Justiça que o Ministério Público nos proporciona.
  
Começo a lista pelo mais fácil, se a senhor Procuradora-Geral fosse simpática arranjava um amigo empresário que me mandasse umas caixas de robalo e nem precisam de ser do mar, podem muito bem serem de aquacultura porque eu não sou esquisito. Se não houverem robalos pode mandar uns lavagantes, que gosto deles com em arroz, ou mesmo uns chocos grandes para fritar às tiras.
  
Como todos sabemos da generosidade do nosso Ministério Público em matéria de prendas aproveito para sugerir à senhora Procuradora-Geral que arranje quem me mande umas garrafas de vinho de colheita caseira, tanto pode ser tinto como pode ser branco, desde que não me mande o Aguiar-Branco tudo bem. Também me é indiferente que seja verde ou maduro, só no caso do maduro é que tenho alergia ao Poiares, não sei porquê sempre que o bebo fico com a sensação de que tem pico a azedo.
  
Também me dava jeito era uma casinha bem localizada e outra para os momentos lúdicos. Gostava de morar num lugar com menos bairros sociais e longe dos amigos dos gatos e quanto á segunda habitação nem sou muito exigente, troco Paris por uma casa em Guerreiros do Rio, na margem do Guadiana. Ouvi dizer que o MP anda a fazer concorrência com os vistos gold e em vez de procurar empresários que querem vir morar para Portugal a troco de um BI, arranja empresários generosos que oferecem casas a amigos.
  
Por falar em amigos também não me importava nada se a senhora Procuradora-Geral arranjasse ou mesmo se inventasse um empresário generoso que mandasse o motorista entregar-me uns envelopes com o pilim todos os meses. Isto, enfim, se não arranjar algum que me dê uma gorjeta de quinze milhões livres de impostos. Confio na criatividade do Ministério Público e o que não falta por aí é gente generosa e cheia de dinheiro sem saber o que fazer-lhe.
  
Por fim, peço desculpa por mandar a carta num dia em que está descansando graças à generosidade de Passos Coelho, que decidiu dar uma tolerância de ponto, agora que a toika está longe, quem poderia esperar tanta bondade do primeiro-ministro? Mas como agora a moda é o MP prender à sexta e o juiz Carlos Alexandre interrogar de sábado a quarta tenho a esperança de que o pessoal da Procuradoria esteja de serviço, preparado para pedir à AT para prender alguém, o que seria uma prenda para o juiz Alexandre.
  
Ainda pensei mandar uma prenda à Senhora Procuradora-Geral mas tenho de lhe pedir desculpa, quando me lembrei já tinha fechado o envelope.
  
Um Bom Natal e um ano cheio de presos preventivos e de condenações a penas longas.