segunda-feira, dezembro 15, 2014

Os negócios e a política

A afirmação de Passos Coelho de que não mistura negócios com política é um grande progresso para quem teve um percurso profissional que diz muito sobre esta mistura. A Fomentivest é um bom exemplo de empresa política e ficou famosa pela sua associação à Carlyle de John Major, Bush e Carlucci para comprar a quota do Estado na Galp com dinheiro barato da CGD, um negócio gorado e negado depois de ter sido denunciado por Louçã. 
  
Com a famosa ONG da Tecnoforma Passos acabou por fazer o percurso por todas as modalidades típicas desta mistura de negócios com política, as empresas de políticos e as falsas ONG especializadas em “sacar” fundos públicos. Passos deverá saber do que fala e se essa alergia à mistura de negócios e política significa que defende o interesse público acima dos interesses do sector privado só pode merecer elogio.
  
Mas se a afirmação significa que a sua intervenção em cargos públicos representa uma total separação em relação aos interesses empresariais então já merece alguma reflexão sobre qual a distância ou sobre as fronteiras dessa separação. Desde há séculos que Estado e negócios são inseparáveis, pelo menos desde o tempo da Companhia das Índias. Os Estados modernos defendem internacionalmente os seus países e a anão ser nos países de economia planificada, o que nos tempos actuais é um conceito que se aplica unicamente à Coreia do Norte, defender os interesses económicos é defender os interesses das empresas ou de algumas empresas.
  
Quando Passos Coelho deixa cair o sector da construção civil ou da restauração está a misturar negócios com política pois favorece outros sectores. Quando cria os vistos gold para vender imobiliário de luxo está fazendo o mesmo. Os exemplos poderiam ser muitos mas basta referir a existência de muitos organismos públicos como o AICEP ou a famosa diplomacia económica para se provar que é mentira dizer que não se mistura política com negócios.
  
Se alguém é contra misturar política com negócios o melhor é dedicar-se à reflexão no Convento da Cartuxa e mesmo assim ainda pode ser acusado de envolvimento no negócio dos vinhos, ainda que estes pertençam a uma fundação que nada tem que ver com os frades com o mesmo nome.
  
Passos Coelho e o seu governo estão fartos de promover e ajudar algumas empresas, da mesma forma que penalizaram outras. O problema não está em fazê-lo, está sim em justifica-lo. No caso do BES a não intervenção é uma opção de intervenção  e a explicação a dar não é a da afirmação de uma separação que não existe.
  
O problema é que esta mistura entre poder e empresas que umas vezes funciona para ajudar as empresas em nome do interesse nacional e outras vezes e em nome do mesmo interesse serve para as destruir não é devidamente explicado. Porque razão esta ou aquela empresa viaja com Cavaco e as outras não? Porque razão umas são bafejadas com os apoios da diplomacia económica e outras não? Porque motivo um banco com negócios duvidosos em off shores teve a ajuda do Estado e a mesma ajuda for recusada a outros bancos.
  
O problema não está em misturar negócios com política, está na ausência de regras, na opacidade destas relações e o discurso de Passos Coelho serve apena para enganar os lorpas, nada clarifica num domínio muito pouco claro.