Demonstrando uma total indiferença Às consequências sociais da combinação entre a sua ignorância em política económica e o extremismo ideológico Passos Coelho parece ter uma nova bandeira política, a de que desta vez não foi o mexilhão a pagar a crise Defende até que as desigualdades não foram agravadas, antes pelo contrário, algumas foram mesmo reduzidas.
Sem resultados, com o milagre económico a redundar num grande fracasso Passos recupera a sua estratégia inicial, a de criar um exército de descamisados que apoiem a sua política, exibindo a classe média como a culpada de todos os males. As desigualdades de que fala não correspondem aos indicadores sociais reconhecidos como tal, são supostos estudos sem qualquer valor que o guiaram na decisão de concentrar as suas medidas brutais sobre alguns.
Mas a verdade é que os mais pobres não só foram vítimas directas das suas políticas como sofreram as consequências de muitas decisões, foram vítimas de cortes em série nos apoios sociais, sofreram aumentos dos impostos sobre a generalidade dos bens de consumo e da energia, foram vítimas do despedimento e da destruição de importantes sectores de actividade.
Passos Coelho nem sequer vive no tal país que está melhor mas onde os portugueses estão pior, ele vive num país de mentiras, um país onde o salário mínimo não é miserável, onde as rendas não aumentaram, onde os doentes não morreram porque a ambulância de Évora ficou na garagem, onde diariamente se fazem campanhas de recolha de alimentos, onde se abandonam os animais domésticos na rua, desde gatos a cavalos, onde dezenas de milhares viram a sua habitação vendida pelo banco ou pelo fisco.
Passos Coelho não tem um pingo de vergonha na cara e parece não se aperceber sequer de quão ofensivo é o seu discurso, ofensivo para milhares de desempregados sem esperança, para famílias divididas pela distância da emigração, para os idosos que sofrem porque deixaram de poder comer alimentos. Quando já nem mesmo a responsável pelo Banco Alimentar vem com o seu discurso de desvalorização da pobreza, aparece um político sem escrúpulos dizer que os pobres estão menos pobres e que os ricos estão menos ricos.