sábado, abril 18, 2015

Batota

Quando Sócrates governava com maioria absoluta Cavaco devolvia os diplomas ao parlamento com o argumento de que determinadas medidas exigiam um consenso mais alargado, isto é, recusava a promulgação dessas medidas sem o acordo do seu próprio partido, instituindo por sua iniciativa um conjunto de matérias em relação às quais e à margem do estipulado na Constituição exigia uma maioria constitucional. O mesmo Cavaco que numas matérias gosta de se afirmar como um institucionalista, noutras acha que a instituição nacional é ele.
  
Com Seguro tentou alterar as regras do jogo negociando a antecipação das eleições a troco do apoio do PS ao programa de excesso de troikismo que Passos implementou com o seu acordo, apoio e envolvimento. Sempre que o governo enfrenta o Tribunal Constitucional ou a oposição dos portugueses Cavaco tenta impor consensos como se uma maioria alargada tirasse o direito de opinar aos portugueses o o direito de vetar aos juízes do Tribunal Constitucional.
  
Esta postura de Cavaco Silva não é própria do mais alto magistrado, de quem se espera independência, é batota política e eleitoral. Veja –se a sua indignação com o PEC de Sócrates, a sua oposição à austeridade e os seus apelos ao consenso com a indiferença com que assiste a uma tentativa de Passos de impor ao seu sucessor u conjunto de medidas que duram uma legislatura. Desta vez Cavaco não achou necessário o consenso e quer que essas medidas sejam aprovadas agora e por este governo.
  
Mas esta batota parece quer a sina da direita em matéria de presidências e presidenciais. Enquanto Cavaco faz batota para favorecer a direita o candidato da direita à sua sucessão faz batota no seu comentário político. Marcelo Rebelo de Sousa sabe que a partir do dia em que declarar a sua intenção de ser candidato presidencial tem a obrigação de deixar o seu tempo de antena e em vez de continuar com o estatuto de comentador independente e de conselheiro presidencial, passará a ser um candidato como os ouros.
  
Para Marcelo há grandes vantagens sem ser um candidato oculto, ganha os honorários da TVI, a sua vida e pensamento não é escrutinado e pode prosseguir o seu trabalho sujo de denegrir os seus concorrentes de cima do seu estatuto de comentador, enquanto vai poupando a sua candidatura à crítica pública. Aquilo que Marcelo está fazendo não passa de batota, Marcelo é o mais batoteiro dos candidatos presidenciais e isso não pronuncia nada de bom para o futuro da Presidência da República na hipótese de vir a vencer as eleições com a ajuda deste truques pouco dignos.