quarta-feira, abril 22, 2015

Os cortes dos vencimentos no Estado

Para muitos os cortes dos vencimentos no Estado era uma consequência lógica da austeridade pois são despesa pública. Para outros os cortes dos vencimentos era uma questão de natureza ideológica para um governo liberal da treta. Havia também que opinasse que resultavam do ódio de Passos Coelho ao Estado. Talvez seja um pouco disto tudo, mas é ainda mais, é um elemento central na sua estratégia de forçar uma desvalorização dos trabalhadores portugueses,.
  
É evidente que os cortes dos vencimentos dos funcionários públicos não incomodou muita gente, antes eles do que nós foi o que muita gente terá pensado e a oposição à austeridade chegou muito mais tarde, muito depois da redução brutal da qualidade de vida dos funcionários do Estado, o protesto só chegou com o famoso golpe da TSU. E como este foi recusado veio uma sobretaxa no IRS que acabou por penalizar duplamente os funcionários.
  
Foram muitos poucos os que questionaram os estudos que concluíam que os funcionários públicos ganhavam mais do que os do sector privado, como se costuma dizer pimenta no rabo dos outros sabe a refresco. Enquanto fossem os funcionários públicos a pagarem a crise estaria tudo bem. O caldo só começou a entornar com o corte nas pensões e só entornou quando os cortes no sector privado chegaram sob a forma de TSU.

Agora é cada vez mais do que óbvio que a destruição do Estado como centro de excelência e a proletarização forçada dos seus quadros foi um poderoso instrumento de desvalorização dos trabalhadores em Portugal. Se um médico pode ser contratado à hora para o hospital Amadora-Sintra ou se um enfermeiro de um hospital público ganha bem menos de 1000 euros porquê pagar mais  a um mecânico ou a um electricista? Os que no passado já estava longe de ser os melhor remunerados como o falso estudo concluía ganhavam agora muito menos e sem incentivos em permanecer no Estado pressionavam o mercado laboral.
  
A grande reforma do mercado laboral não veio da alteração da legislação mas sim do desespero provocado pelo desemprego e da desvalorização brutal dos trabalhadores operada no sector público. O que o governo pretende é uma desvalorização forçada do factor trabalho, há bem mais vantajoso do que teria sido uma desvalorização cambial, que também desvalorizaria a riqueza dos mais ricos.
  
Desvalorizado o factor trabalho, eliminados os 13º e 14º meses de ordenado Passos Coelho prossegue na sua política manhosa em que não se definem os objectivos que vão sendo alcançados graças a medidas avançadas a coberto dos credores internacionais que quando tinha Durão Barroso à frente alinharam no golpe a Portugal e aos portugueses. Agora o objectvo é destruir a Segurança Social e com esta já em dificuldades devido ao aumento da despesa e à perda das contribuições em consequência do desemprego e das reduções salariais a redução das receitas da TSU seria um golpe fatal.

Passos Coelho começou por imaginar uma revisão constitucional que reformataria o país, mas perante a impossibilidade de conseguir o apoio do PS para o seu projecto canalha optou por uma política manhosa em que a coberto da austeridade está a promover a reformatação do país sem que para tal tenha sido mandatado, ainda que tenha o apoio de um Cavaco Silva de cuja sanidade mental já se começa a duvidar.
  
Poupar o país a este projecto significa livrá-lo de Passos Coelho e de Cavaco Silva.