quinta-feira, abril 23, 2015

"¡Muera la inteligencia!" ?

Passos Coelho anda há meses a pedir ao PS que lhe apresente alternativas e quando o PS avança com o enquadramento económico das soluções que pretende propor ao país eis que o líder da direita foge ao debate em vez de discutir as medidas refugia-se em truques de linguagem e manda a sua alcateia morder no líder do PS. De um lado é o PSD e o CDS a atacar um documento que nem se deram ao trabalho de ler, do outro são os jornalistas contratados pelo Compromisso Portugal a escreverem artigos sucessivos de qualidade técnica duvidosa.
  
É divertido ver um governo que durante muitos meses viveu da imagem de Vítor Gaspar vir agora desvalorizar um grupo  de economistas entre os quais estão vários que deixariam o ex-ministro na sombra académica. Gaspar era o maior, era doutorado, a avó Prazeres era o símbolo das virtudes, era bem visto no BCE, tinha amigos em Harvard e até calava o então ministro da Economia (teria sido bem mais útil calar o actual).
  
Agora desvalorizam o grupo de economistas, achincalham o trabalho e tentam ridiculariza-los como se tudo o que viesse de economistas fosse burrice. Ser doutorado em Harvard já não conta, ter boas relações no BCE já não se valoriza, fundamentar as propostas de política económica já não se valoriza. Agora o que conta são as piadas de uma ministra das Finanças que sabe tanto de política económica como de lagares de azeite, as grandes afirmação de um Portas a olhar de esguelha e com aquele sorriso cínico que só nos dá vontade de mandar à merda.

Este foi o governo que num dia decidiu um esquema na TSU e que no outro criou uma sobretaxa no IRS sem qualquer estudo ou debate e com um único economista a decidir, este foi o governo que fez um guião da refundação do Estado que depois disse que iria ser calendarizado e acabou por sugerir que as reformas já estavam feitas ainda antes do guião.
  
Este governo cortou salários e pensões depois de na campanha se ter prometido o contrário e usado isso para desvalorizar o então líder do PS, este governo adoptou uma política económica sem qualquer estudo prévio e assente apenas em premissas ideológicas, este governo chamou reforma da Segurança Social a um corte linear das pensões, este governo ora adia reformas, ora as propões ao partido da oposição ao sabor das conveniências de estratégia política.
  
De um lado temos um governo que põe em causa todas as estatísticas de que há pouco tempo se servia para anunciar milagres, que recorre a truques de ilusionismo para eliminar desempregados, que promove a emigração de quadros para estes não aparecerem nas estatísticas do desemprego, que num dia propõe alterações na TSU e no dia seguinte recua, que propõe reduções das pensões sem explicar como as consegue. Do outro temos uma tentativa de debater os problemas nacionais numa base de seriedade.
  
Parece que a nossa direita se inspirou no general franquista José Millán-Astray y Terreros a quem é atribuída a expressão  "¡Muera la inteligencia!”. Agora já não elogiam os economistas, já não se valoriza Harvard, não se dá importância às relações com o BCE, agora o que importa são os cofres cheios da Maria Luís e a economia mais competitiva do mundo apregoada por Passos Coelho.