Da passagem de Cavaco Silva pela política, quer enquanto
primeiro-ministro, quer enquanto Presidente, ficaram muitas contas por ajustar
ou saldar, porventura, muitas mais do que aquelas que conhecemos. Por isso
faria sentido alguém que foi dispensado pela política e queira regressar ao
palco comece por mostrar que saldou as suas contas.
Mas não foi isso que Cavaco veio fazer e muito menos dizer
se graças à esquerda perigosa as suas parcas pensões já dão para as despesas,
as suas contas vão continuar por saldar, não esclareceu muitas dúvidas que
existem em torno de alguns dos seus negócios ou dos seus golpes políticos. O
que Cavaco fez foi vir a público para espumar. A raiva acumulada contra
Sócrates não foi acalmada pelo Caso Marquês, os ciúmes e relação a Marcelo são
insuportáveis ao ponto de não terem aguentado um ano.
Cavaco nunca se seguiu por ideologias, de social-democrata
pouco ou nada tem, o PSD serviu-o. Quanto a valores os seus negócios, os
queixumes e outras intervenções descuidadas dizem mais sobre a personagem do
que as encenações cuidadosamente preparadas por assessores. Cavaco odeia
Sócrates, invejava a dimensão cultural de Soares, sente ciúmes pela
popularidade de Marcelo.
O homem que depois de tantas vitórias saiu da Presidência da
República sem prestígio não suporta que Marcelo tenha mais popularidade do que
alguma vez ele teve. Reedita com Marcelo a ciumeira que tinha da família
Soares, o homem que saiu de Boliqueime mas cuja dimensão permanece junto à bomba
da gasolina não suporta a classe do citadino Marcelo. A razão aconselhava-o a sofrer
em silêncio, em esperar por melhor oportunidade, mas os ciúmes que lhe corroem
a alma são mais fortes.
Odeia Sócrates, o ex-primeiro-ministro sempre teve o condão
de o irritar e, ainda por cima, nunca perdia a oportunidade de o provocar.
Tinha de se vingar de Sócrates, tinha de o apanhar ainda na mó de baixo, nunca
lhe perddou a destruição da sua imagem de austeridade durante a campanha
presidencial, sempre pensou que Sócrates esteve por detrás das notícias que o demonstraram.
Não poderia esperar mais tempo, tinha que usar o Caso marquês como se fosse o
leitor mais inculto do CM.
Não Cavaco não tem ideologia, nada tem de social-democrata,
é ele o seu espelho, é ele e os seus ódios, raivas, ciúmes e vinganças. Cavaco
não saldou contas, veio dizer-nos que nunca estaremos enganados a seu respeito,
foi o prior Presidente da República, vai ser o pior ex-presidente da República.
Cada vez que aparece apenas mostra que as eleições que venceu foram os maiores
erros dos eleitores, sim porque como se viu com Trump os eleitores também
escolhem o que não desvia ser escolhido.
Cavaco não veio ajustar contas com terceiros, veio ajustar
contas com os seus fantasmas.