Para conseguir défices bem acima dos 3% a direita inventava desvios colossais para justificar cortes de vencimentos e de pensões, acusava o povo de consumir acima das possibilidades, difamava o país sugerindo que por cá erramos mais gandulos dos que os outros, cortavam-se férias e feriados, fazia-se de tudo.
As escolas tinham salas empanturradas de alunos para poupar nos professores, morria-se à porta das urgências, os pilares de uma futura ponte perto de Ferreira do Alentejo foram convertidos em postes para ninhos de cegonhas, o Metro deixou de renovar a sua frota, todas as obras pararam. Não havia dinheiro para nada, criou-se um ambiente de terror, não se sabia quanto se iria receber de ordenado no mês seguinte. Não gastar m tostão era símbolo de rigor, competência e amor à nação.
A direita que sempre se afirmou com o dom da competência e do rigor orçamental apostou no falhanço de António Costa, deixou armadilhas montadas nas receitas fiscais, recusou-se a dar contributos para o OE e os seus deputados receiam ordenado para roçar o cu no veludo das cadeiras parlamentares, apelaram à direita reunida em Madrid para que condenassem o governo português, exigiram que Bruxelas impusesse um plano B.
A tese era a de que o défice proposta era aritmeticamente impossível de alcançar, já não seria um problema de rigor, a funcionária da Arrows dizia que Centeno nem sabia fazer as contas mais elementares. Ainda esperaram pelo Diabo em Setembro, cada vez que uma agência de rating se ia pronunciar toda a direita se excitava, o momento mais alto foi quando chegou a vez da canadiana DBRS, se esta desse a notação de lixo viria aí o desejado segundo resgate.
Mas o país sobreviveu à DBRS e às diatribes fiscais da Maria Luís, a esperança passou a ser uma armadilha deixada por Passos Coelho, a situação da CGD e do BANIF. As agências rating deixaram de falar no défice, o problema era a anca. A cada subida nas taxas de juro da dívida sentia-se a excitação colectiva a direita. Mas o tal governo que não respeitaria os compromissos internacionais cumpriu com tudo, o défice foi reduzido a mínimos e a CGD vai ser recapitalizada.
Agora o problema já é o crescimento, todos exigem crescimento. Esquecem-se de que era uma palavra proibida por Passos Coelho e os mesmos jornalistas e comentadores que hoje exigem crescimento no passado elogiavam o Gaspar, o tal ministro que transportava os valores da avó Prazeres, mulher da Serra da Estrela. Quando o Sôr Pereira exigia medidas para promover o crescimento o Gaspar respondia “não há dinheiro”, perante a insistência perguntou ao colega “qual das três palavras não percebeu”. Os que hoje exigem crescimento numa economia que deixaram descapitalizada elogiavam na altura o traste que era ministro das Finanças.