Quando o governo de Sócrates assinou o memorando com a Troika o PSD exigiu a sua publicação, como o documento foi divulgado em inglês, a língua em que foi redigido e assinado o PSD exigiu a sua tradução. Seguiram-se eleições em que a direita conseguiu a maioria parlamentar que apoiou o governo de Passos Coelho e Paulo Portas ao longo de uma legislatura.
Deu-se, então, o início a uma longa branca na história de Portugal, sabemos o que se decidia na corte de D. João II, os investigadores do caso Watergate tiveram acesso a todas as conversas telefónicas de Nixon, mas os portugueses estão impedidos de conhecer a sua própria história, como se isso fosse um exclusivo de Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva.
Durante quatro anos os portugueses sofreram um plano de austeridade brutal, alguns morreram nas portas das urgências, dezenas de milhares ficaram desempregados, outros tantos foram forçados à emigração, quase todos viram reduzidos os seus rendimentos de forma arbitrária. Todos os dias ouviam ameaças de mais austeridade, nunca se sabia o que ia suceder no mês seguinte, sempre que eram impostas novas medidas eram justificadas com a renegociação do memorando ou como imposições da Troika.
Tem-se a percepção de que os portugueses foram sujeitos a uma experiência destinada a validar teses académicas, percebe-se que os senhores da troika mais algumas personagens locais se dedicaram ao experimentalismo, sabe-se que muito do que se fez não estava previsto no memorando inicial, comprova-se agora que o problema da banca foi ignorado, apesar de se perceber agora que era o maior problema da economia portuguesa.
Sabe-se tudo isto mas nada se sabe do que se passou nos gabinetes governamentais, nas negociações com a troika. Sabemos que foram ditas mentiras, que os senhores da Troika se deixaram usar para sujeitar todo um país a experiências duvidosas e desumanas, o país está impedido de saber, é um direito reservado a meia dúzia de personalidades, os rapazolas da Troika, Durão Barroso, o presidente do BCE, o foragido Vítor Gaspar, Passos Coelho, Paulo Portas e, talvez, Cavaco Silva.
É inaceitável que tal tenha acontecido em democracia e que se continue a esconder o que se passou. A Troika sabia ou não da situação da banca, qual foi o envolvimento de Passos Coelho nas lutas dentro da família Espírito Santo e no desfecho do grupo, as medidas resultaram de alterações do memorando ou visaram fazer experiências económicas de natureza mengeliana?