É um dos lados escuros da política portuguesa de quem ninguém fala, os militantes ou simpatizantes que os partidos colocam em altos cargos da Administração para que lhes sirvam de informadores quando não estão no poder. Não raras vezes vemos políticos da oposição a fazerem intervenções que fazem supor um conhecimento dos dossiers que vai muito para além do que seria permitido pela sua confidencialidade.
Esta prática vai tão longe que até temos um comentador televisivo que semana após semana aparece na SIC ganhando protagonismo graças à facilidade com que acede a dossiers a que um mero advogado privado seria suposto não aceder. O momento mais alto desta orgia aconteceu quando Marques Mendes tornou públicas as propostas do Banco de Portugal. É óbvio que acedeu a um dosseir altamente confidencial e só "desbocou" quando sabia que o dossier já tinha chegado ao governo. Não se sabe de onde veio a fuga de informação, se do BdP ou do governo, desta forma todos saem incól,umes e o "garganta funda" de Marques Mendes não foi denunciado.
Este é um exemplo que salta aos olhos, se me ouvirmos com atenção as intervenções de Passos Coelho percebe-se com frequência que acedeu a mais informação do que aquela que a lei permite que seja tornada pública ou mesmo comunicada ao parlamento. O mais recente exemplo desta forma de fazer oposição sucedeu com a suposta mentira de Centeno. Quando a direita exigiu a correspondência entre Centeno e Domingos fê-lo de uma forma que deixava óbvio que sabia que daí poderia vir matéria para alimentar o folhetim. E assim foi.
Agora insistem, em ter acesso aos SMS entre Centeno e Domingos, algo que muitas vezes apagamos, da mesma forma que não gravamos as conversas telefónicas. A direita exige algo que só em crimes com penas superiores a 3 anos a justiça pode fazer, e fá-lo em condições que as polícias não podem fazer, exigem gravações. É óbvio que a direita sabe muito bem o que está nos SMS, também sabe que Centeno pode argumentar que os apagou, como faz qualquer pessoa. Então porque motivo a direita insiste? A direita sabe que existem os SMS, porque alguém os guardou os colocou à disposição de quem quer tramar Centeno.
Já não estamos no debate de ideias ou mesmo no apuramento da verdade, estamos no domínio da intriga e do golpe baixo. A partir de agora é bom que os políticos evitem enviar SMS, nunca saberão se o SMS ingénuo a que estarão a responder não será uma cilada, a resposta que estão a dar de forma informal com meia dúzia de caracteres pode estar nas mãos de Passos Coelho ou de qualquer outro político no dia seguinte.
Não é a primeira vez que Passos Coelho e a sua equipa recorrem a truques na política, a sua equipa que ganhou experiência nas lutas das associações de estudantes, usaram e abusaram de truques nas redes sociais e nos programas com participação de ouvintes, nas rádios e televisões. Agora vão mais longe, estão usando informação privilegiada e pessoal para montar ciladas. Perdida a esperança do segundo resgate, falhada a vinda do diabo, Passos e a sua equipa de extremistas socorre-se de todos os meios para sobreviver.