Desde que Marcelo Rebelo de Sousa chegou à presidência que o
país mudou, não o país de todos nós pois esse não mudou, a não ser, um pouco
para melhor, porque qualquer país onde Passos Coelho deixe de governar fica
logo melhor. O país que mudou, muito e para pior, é o país do Marcelo.
Dantes o país do Marcelo era o dos almoços em ambiente
chique, não como o famoso falso almoço com Vichyssoise, mas sim os almoços nas
residências dos banqueiros, no Pabe, no Gigi, em ambiente requintados de
administrações bancárias. Agora o país de Marcelo é outro, come-se empadão de
atum com o sem-abrigo que voltou a ter casa e, coincidência das coincidência,
mergulhou com ele no Yangtze de Lisboa, no meio de todos aqueles cagalhotos.
Cavaco chegou à Presidência da República fez o roteiro da
exclusão. Curiosamente o seu roteiro começou por alguém que ele tinha excluído
de uma pensão, que preferiu dar a um Pide, mas, enfim, essa é uma medalha de
caca que o senhor da Coelha vai levar consigo para a cova. Mas não parece ser
com Cavaco que Marcelo concorre, para destronar Cavaco do pódio dos mais preocupados
com a pobreza bastaria ir à feira do relógio comer uma sandes de courato e
emborcar uma lambreta, desde que no meio da copofonia não se enganasse e
bebesse o Lambretas do CDS.
Os seguidores do Padre Vítor Melícias têm esta tendência
para o franciscanismo público e Marcelo parece querer apeara Rainha Santa
Isabel no seu amor aos pobres. É por isso que Marcelo não para desde que chegou
á presidência. Quando muitos esperavam ver Marcelo usufruir dos prazeres
palacianos, desta vez oficiais, surpreende-nos. De manhã toma o pequeno almoço
com uns velhotes que têm de usar chapéu de chuva dentro de casa, mais logo
almoça com o sem-abrigo que voltou a ter abrigo, à note vai à sopa dos pobres e
a ceia é com os sem-abrigo de Santa Apolónio. O capitão de mar e Guerra que o
segue, já quase sem fôlego, está tramado, vai passar o mandato presidencial,
sem usar os talheres de prata da Messe dos Oficiais.
Mas não seria má ideia alguém lembrar a Marcelo que há mais
país, que há mais portugueses, nem todos são sem-abrigo ou vivem em casas
degradadas, uns são remediados, outros vivem um pouco melhor, alguns são gente
com sucesso e até sorte, outros, poucos, até são ricos. E são todos
portugueses, todos fazem parte de Portugal. Compreendo essa vocação cristã de
Marcelo e até prefiro esta versão à das missas e procissões dos Passos, mas
convinha que o presidente não transformasse o país numa imensa Santa Casa.