quinta-feira, fevereiro 22, 2018

A MAIS RECENTE PAIXÃO DO PSD

Ao fim de dois anos e já com uma mudança de líder pelo meio o PSD revela-se incapaz de aceitar um parlamento onde todos os deputados podem ser contados para formar maiorias parlamentares. Desde o primeiro dia que a aposta do PSD não é ganhar eleições no fim da legislatura, mas chegar ao poder na sequência de uma crise na maioria parlamentar.

Desde o tempo em que chegou ao poder graças ao aparecimento do PRD de Ramalho Eanes e esposa, o PSD se habituou a chegar ao poder graças à divisão dos votos na esquerda. Num país que sociologicamente tende a votar à esquerda, a incapacidade que o PCP e mais tarde também o BE revelaram em apoiar um governo do PS, era a garantia para a direita chegar facilmente ao poder.

A esquerda conservadora só inviabilizava governos minoritários do PS, estes só sobreviviam enquanto as sondagens não aconselhassem a oposição de direita a juntar-se ao BE e ao PCP na votação de moções de censura. Uma parte dos deputados eleitos pelo “povo de esquerda” serviam apenas para derrubar ou inviabilizar governos da esquerda. Agarrado aos seus preconceitos ideológicos o PCP e o BE nunca reconheceram quaisquer melhorias sociais em resultado do governo, tudo o que de bom sucede aos trabalhadores só pode ser conquistado por lutas e à maioria da direita no parlamento o PCP e o BE sempre opuseram uma maioria nas ruas.

A formação da “geringonça” foi uma surpresa para a direita que ainda hoje não a consegue aceitar. Não só não aceita como ainda não acredita que consiga ser mais estável do que o seu governo onde não faltaram demissões irrevogáveis. O próprio apoio do BE ao governo do PS foi mais do que uma surpresa, soube mesmo a traição, durante anos a direita e a sua comunicação social promoveram o BE, os seus dirigentes e, em especial, as meninas com dois palmos de cara ou de mamas eram promovidas a vedetas. Daca jeito à direita um BE que servia para tirar 8 a 10% de votos ao PS.

Não admira que durante estes dois anos o PSD tenha mudado várias vezes de estratégias, sempre com o apoio do seu apêndice da Cristas. A estratégia tem mudado, mas o objetivo permanece o mesmo, tentar a todo o custo dividir a coligação parlamentar e restabelecer aquilo que a direita considera ser normal, para um governo de direita todos os deputados contam, mas para um governo de esquerda só podem contar os deputados do PS.

De um dia para outro, gente que espumava ódio ao governo, como o autarca da Guarda, tornaram-se em dóceis paladinos do diálogo, os membros da liderança do PSD que defendem o diálogo vão para a televisão dizer que sentem repugnância por um governo só por ser de esquerda. É muito duvidoso que Rui Rio tenha qualquer intenção de diálogo, esta estratégia visa apenas não perder o voto útil nas próximas legislativas, passar a ideia de que o PSD está mais à esquerda e tentar dividir a coligação, desta vez com uma nova estratégia.

A direita só quer consensos enquanto não voltar a ter o poder, de preferência consensos que deixem de foram todos os parceiros do PS e que conduzam ao fim de uma maioria parlamentar que põe fim à hegemonia da direita no poder.