Apesar do muito que se escreveu acerca das declarações da ministra da Justiça a propósito da eventual recondução do detentor do cargo de Procurador-Geral da República, declarações que foram mais um exercício académico do que uma avaliação da atual Procuradora-Geral, as declarações mais assassinas sobre a matéria e que quase foram ignoradas, foram a do Dr. Ventinhas, presidente desse sindicato absurdo dos magistrados do MP. Ficou óbvio que o sindicato não quer ou não gosta da Dra. Joana Marques Vidal ou em alguém, na manga para ocupar o lugar.
Este frenesim anti-corrupção que mais parece uma praga do Egito do que o regular funcionamento das instituições da Justiça, tem mais explicações do que o habitual argumento do "normal curso da justiça". Agenda para cerca de cinco dias buscas ao gabinete do ministro das Finanças, formular a acusação contra dois ex-governantes, lançar uma mega operação contra gente mediática, tudo com o envolvimento de fugas programadas ao segredo de justiça é tudo menos normal ou coincidência.
Podem ser sugeridas várias explicações, a começar pela resposta à suposta ameaça governamental de não reconduzir a Procuradora-Geral. Seria uma explicação muito primária, só um suicida faria todo este espalhafato, não hesitando em difamar internacionalmente o presidente de uma dos maiores órgãos de poder financeiro á escala mundial. Seria grande ingenuidade sugerir que a mão atrás do arbusto é a da Procuradora-Geral ou que ela seria a beneficiária deste espectáculo triste e vergonhoso.
A tese do golpe de Estado e do desrespeito da separação de poderes por parte de magistrados que se querem substituir aos eleitores, porque estes idiotas andam a fazer escolhas menos inteligentes do que as que eles fariam, tem algum fundamento, o ataque a Centeno visava derrubá-lo e destruir a credibilidade do governo, uma manobra que só tem paralelo em acontecimentos dos anos 70. Mas é duvidoso que alguém arriscasses tanto e é muito provável que o ataque a Centeno seja uma manifestação de estupidez e incompetência por parte de alguém que terá mais olhos do que barriga.
Também se diz que esta sequência de acontecimento se segue a um momento em que a Procuradora-Geral estava sendo posta em causa no caso das crianças roubadas pelos bispos da IURD. É verdade que as declarações feitas pro alguns intervenientes nos processos põem em causa da Procuradora-Geral, mas é muito duvidoso que esta tivesse poderes para usar os recursos do MP ao seu serviço. Até porque o caso está a perder gás, há muitas formas de abafar situações em que as vítimas são pobres.
A explicação mais lógica terá que ver com a designação do ou da próxima Procuradora-Geral, sendo óbvias as ambições de algumas figuras mais mediática do Ministério Públio. É também óbvia a ofensiva do Dr. Ventinhas, que depois de ter despachado a hipótese de recondução da detentora do cargo, promoveu um congresso na Madeira em que o tema central foi a escolha do próximo titular do cargo. Esta não foi uma semana brilhante para Joana Marques Vidal, que dificilmente será reconduzida, mas foi a primeira semana de campanha para o ou a candidata ao cargo.