Quando se sugeria aos quadros que emigrassem em busca de zonas de conforto, quando personagens como Rangel propunham que fosse criada uma agência para apoiar os jovens quadros a emigrar, quando era proibido falar em crescimento, quando se via o encerramento de empresas uma forma de eugenia que fortaleceria a competitividade, nesse tempo recuado, de que já não se lembram apresar de estar dois anos de distância, ninguém falava em crescimento sustentado.
Nunca vi as personalidades da direita, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa quando ainda só comentava tudo na qualidade de comentador televisivo falarem de crescimento sustentado. Agora. De um momento para o outro, ficaram muito exigentes e já não lhes basta crescer e criar emprego, temos de crescer muito, durante muitos anos e o crescimento deve ser sustentado.
Mas seria bom que quem ala aos banqueiros em crescimento sustentado, pressupondo-se que sabe do que fala, pode dar uma aula sobre a política económica que deve ser adotada para conseguir o tal crescimento sustentado. Seria muito interessante que nos explicassem os indicadores que nos permitem classificar o crescimento sustentado.
Depois de nos explicarem como se consegue o crescimento sustentado exigido a este governo, seria interessante que nos explicassem como se compatibiliza esse objetivo com a prioridade nacional de redução da dívida, que há algum tempo o Presidente definiu, tendo ainda em conta a necessidade de cumprir com todos os compromissos em matéria de equilíbrio financeiro. É bom que nos digam onde se mobilizarão os recursos depois de acorrer a todas as prioridades definidas semanalmente pelo Presidente da República e que vão das florestas às vítimas dos incêndios, passando pelo pagamento da dívida ou pelo SNS.
Mas Marcelo perdeu mesmo uma boa oportunidade de defender uma economia mais saudável e com menos riscos, até mesmo o tal crescimento sustentado. Poderia acusar os banqueiros a que se dirigiu de forma tão simpática, das suas responsabilidades na crise financeira, cobrando-lhes os sacrifícios feitos pelos pobres para os salvar. Poderia sugerir-lhes que deixem de ganhar tantos prémios de desempenho à custa do crédito ao consumo, exigindo-lhes que apostem mais no empreendedorismo, que “chulem” menos as empresas e que sejam mais competitivos e amigos da economia.