sexta-feira, fevereiro 23, 2018

EXTREMISTAS, DIZEM ELES

Se olharmos para a história da democracia portuguesa e considerarmos que os partidos da esquerda tivessem adotado no passado o pragmatismo que levou á formação do atual governo, teremos de concluir que muita coisa teria sido diferente. A direita portuguesa beneficiou muito das decisões políticas do PCP e mais tarde do PCP e do BE. Durante décadas o país teve um parlamento em que uma parte dos deputados não contavam a não ser quando o seu voto era útil à direita.

Ontem, na SIC Notícia, ouvimos mais uma vez o argumento da direita que dito até á exaustão quase parece ser um princípio constitucional, num debate com João Galamba o deputado do CDS Adolfo Mesquita voltou a lançar o cisma sobre o PCP e o BE com a simples acusação de serem de extrema-esquerda, justificando esta condenação com ditaduras sanguinárias e a posição em relação à Europa.

Muito provavelmente o Adolfo não saiba quem mandou matar Humberto Delgado a tiro, atirando o seu corpo e o da sua secretária para a valeta de uma estrada espanhola. Também deve estar esquecido de muitas posições do CDS em relação a questões europeias ou de quando o PSD encheu o país com cartazes com a frase “Portugal Connosco”, por oposição às posições europeias do PS.

O CDS luta desesperadamente pelo fim da geringonça e pela marginalização do PS com um argumento típico de quem na geometria política está tão distante do centro quanto o PCP. As posições do CDS são em quase todos os domínios simétricas das do PCP e do BE e, não raras vezes, são bem mais extremistas, como sucede sempre que estão em causa questões que põem em causa a defesa da criminalização de tudo o que é pecado ou pecadilho para os seus padrões cristãos conservadores.

Nos anos 70 uma parte da esquerda aceitou com orgulho a classificação de “extrema-esquerda”, assumindo os seus valores ideológicos. DO outro lado, na extrema-direita saída da ditadura todos se converteram em democratas cristãos e em social-democratas, deixou de existir extrema-direita e esta passou a ser associada às formas mais marginais de extremismo político, designadamente, os neo-nazis.

Passou a haver uma geometria política que vai no sentido do interesse do CDS e do PSD, a extrema-direita mais conservadora é democrata cristã, a extrema direita chique ora é personalistas, social-democrata ou liberal, o PS é de esquerda e a sua ala esquerda ou tudo o que fica à esquerda é da extrema-esquerda perigosa e pecaminosa. 

A verdade é que as posições de Passos Coelho e dos seus apoiantes da extrema-direita chique do Observador são bem mais à direita do que as do BE estão à esquerda. Os cortes de rendimentos e de pensões sob a ameaça do medo de medidas mais graves, o chamar piegas aos portugueses, um adotar uma agenda económica escondida por mentiras, chamar requalificação ao despedimentos e zonas de conforto ao destino da emigração, são formas políticas bem mais extremistas do que qualquer medida apoiada ou proposta durante os últimos anos pelo PCP ou pelo BE.