O país esgota-se em discursos sobre reformas estruturais, pactos e consensos, versões 3.0 e 4.0, prisões e inquéritos, enquanto quase tudo vai sendo deixado para trás. A governação está mais dependente da resposta à agenda mediática e inquinada por falsos problemas, do que orientada para a superação do nosso atraso. Nos últimos meses têm sido quase alucinantes, de um lado um Presidente que define prioridades nacionais a um ritmo semanal, do outro um Ministério Público que um dia destes se engana e manda prender o cavalo do D. José mais o leão do Marquês de Pombal.
Com os grupos corporativos a parar o país com as suas jogadas mediáticas, um Presidente da República que usa a comunicação para surfar na realidade usando todas as misérias em seu favor e as associações empresariais e sindicais mais empenhadas em dividir o pouco do que em criar mais, o país não se discute a si próprio. Não se pensa onde se deve investir mais, se no ensino ou na saúde, nos comboios ou nos portos, num aeroporto novo ou num remendo aeroportuário.
O país é decidido diariamente em função dos horários dos telejornais, quem conseguir mais likes para a sua ideia ganha e força o governo a mudar. É problema por resolver o que se apresenta de forma mais dramática, o que hoje indigna o país, como o caso das crianças da IURD, amanhã é abafado a bem da Nação. Portugal é, em simultâneo, um país com falta de formação, educação e cultura e com excesso de opinion makers.
É possível mudar o país, mas para isso é preciso mais seriedade, não se pode fazer tudo para enxotar um líder partidário e quando o desgraçado está de partida elogiar o seu trabalho. Não se pode estabelecer prioridades em função de catástrofes e a solução dos grandes problemas não pode ser um pensamento de ocasião enquanto se ouve uma homilia de uma missa do sétimo dia.
É possível desenvolver o país e assegurar um futuro melhor para todos, velhos e novos, litoral e interior, trabalhadores em empresários, Estado e privado. Mas para isso é necessário pensar sem se estar a perguntar para que câmara devemos olhar, resistindo à tentação do populismo e identificando os problemas analisando o país e não esperando pelo telejornal na esperança de que tenha ocorrido mais uma catástrofe.