terça-feira, fevereiro 27, 2018

O QUE É O INTERIOR?

O que é aquilo que no debate político se designa por interior? São localidades junto da fronteira que estão a meia dúzia de quilómetros do TGV ou de grandes centros económicos da vizinha Espanha? É a região do Porto por oposição à capital e que muitas vezes é designada por capital do Norte? Mede-se a interioridade pela distância em relação a Lisboa, a grandes cidades apenas portuguesas ou espanholas, pela distância em relação ao litoral?

Os partidos estão dominados pelos seus aparelhos e nestes quem mandam são os "senhores da guerra" das distritais, os herdeiros dos caciques de outros tempos e uma boa parte do debate deste tema visa apenas transferir fundos para serem geridos por essa gente.

O que fica mais no interior, a cidade de Viseu ou aldeias como o Monte Francisco, o Azinhal, Junqueira e outras que ficam a menos de dez quilómetros do litoral mais procurado do país, no Algarve? A resposta é óbvia, o interior é Viseu onde o rendimento médio per capita é infinitamente superior ao daquelas aldeias, onde ainda se morre de uma coisa. porquê? Porque  Viseu é a uma grande capital, é a capital do Cavaquistão e de lá é muita gente poderosa dos nossos maiores partidos.

No litoral há dezenas de vilas e aldeias onde se vive pior, onde há menos recursos, onde há menos escolas e hospitais do que nas tais cidades do interior que estão subjacentes à falsa preocupação com a desertificação do interior. Onde é que se vive melhor, no Carvalhal ou na Comporta ou em cidades como Bragança, Guarda, Vila Real e muitas outras do tal interior pobre e abandonado?

O debate da questão da interioridade não passa da luta de alguns lóbis com sede fora de Lisboa que usam o discurso do coitadinho para transferirem recursos. O desenvolvimento regional não se faz desta forma e muito menos tirando benefícios fiscais ao litoral para dar ao interior, como defende o grande Miguel Cadilhe, até porque os esses benefícios são concedidos ao interior. Além disso, não vivemos numa república soviética e ninguém conseguirá obrigar os investidores nacionais ou estrangeiros a investirem no tal interior e a sujeitarem-se às exigências dos caciques locais.

O debate está colocado da forma errada, a questão não é entre interior e litoral mas entre regiões e comunidades mais desenvolvidas e regiões e comunidades mais pobres. Estas tanto podem estar no interior, como se podem localizar na periferia de Lisboa, tanto podem estar na fronteira como localizar-se junto às praias do Algarve. O debate do desenvolvimento regional não se faz desta forma. O que está em causa neste debate não é o desenvolvimento, é a engorda dos caciques locais com dinheiro dos contribuintes.