terça-feira, junho 05, 2018

PENSAR O PAÍS

A crer no discurso do Presidente da República os problemas do país são os que puxam mais à lágrima, os incêndios, os sem-abrigo, a sopa dos pobres, os funerais e missas do sétimo dia. As prioridades que estabelece, por vezes a um ritmo semanal, não resultam de qualquer estudo ou reflexão, mas sim da agenda noticiosa, tudo o que der mais beijinhos, abraços e likes ganha o estatuto de grande prioridade.

Para o PCP as grandes prioridades são definidas pelas suas estruturas sindicais porque delas depende o que resta da sua base eleitoral. Essas bases são cada vez mais reduzidas e são sempre as mesmas, a CP, os professores, os polícias e pouco mais. O progresso do país mede-se pela satisfação e bem-estar de alguns grupos profissionais. Mas como o PCP vive de lutas esses grupos nunca estão ou estarão satisfeitos, é certo que ano sim ano não ou ano sim  ano sim teremos um qualquer motivo para greves aos exames.

Para a direita tudo serve de prioridade desde que apareça no telejornal da noite, o país deve ser pensado em função dos acontecimentos que incomodem o governo. Há umas semanas atrás era o SNS e a pediatria do Santo António, assuntos que já foram esquecidos. Agora as preocupações são outras e para sabermos quais são basta ir ao Observador, ao Expresso ou ao Público, está lá hoje o que o PSD e o CDS vão dizer amanhã.

Para o governo o que importa são os indicadores positivos, as boas notícias. Quase não conhecemos uma boa parte dos governantes, os secretários de Estado são mais desconhecidos do que os presidentes de juntas de freguesia da Beiras. O governo é o Mário Centeno por causa das boas notícias e o Eduardo Cabrita por causa dos incêndios.

Só há uma forma de resolver os problemas e para isso é preciso criar riqueza a um ritmo maior do que o atual e distribuí-la de forma equitativa, o que não é necessariamente distribuí-la de forma a dizer os Máríos Nogueiras satisfeitos. É preciso melhorar o ensino para qualificar e requalificar os portugueses, é necessário investir em infraestruturas que contribuam para produzir, transportar e exportar melhor e com menores custos, é necessário melhorar os hábitos dos portugueses para reduzir o custos das infraestruturas sociais, designadamente, do SNS.

É tempo de começar a pensar o país a médio e longo prazo e não é isso que o Presidente da República, o Governo e a oposição estão fazendo. De uma forma ou de outra todos eles navegam à vista ou definem prioridades a pensar nos seus umbigos.