Desde há alguns anos que o país é sacudido quase diariamente
com operações de limpeza levadas a cabo pela justiça, Portugal abana mais com os
sucessivos arrastões levados a cabo pelos magistrados do MP e pela PJ do que
São Francisco com os sismos da falha de Santo André.
Quando não é o Benfica é o Porto, quando não é o Porto é o Mário
Centeno, quando não é o Mário Centeno é o Medina, quando não é o Medina surge
sempre uma carta anónima ou uma transferência bancária de quinhentos euros e o
país é novamente abanado. Isto começa a fazer lembrar o verão quente de 1975
quando já se sabia que lá para o fim d o dia rebentava uma bomba. Aos poucos o
povo vai-se habituando e já ninguém liga, é coisa para os policias e inspetores reformados CMTV se
entreterem.
Não conheço nenhum país onde os magistrados tenham princípios
democráticos onde um ministro das Finanças seja investigado com base numa
notícia falsa, dias depois de ter sido nomeado para um dos cargos mais
importantes da Europa e depois os magistrados arquivem o processo, mas fiquem
com a informação recolhida no ministério com a técnica do arrastão.
Se levarmos as notícias a sério só nos resta ter vergonha de
ser portugueses e um dia destes ainda vamos ver a estátua do D. José mais o
cavalo serem presos no terreiro do Paço, acusados de corrupção, ficando a
pernoitar nos calabouços da PJ, enquanto a CMTV divulga em primeira mão os
motivos de suspeita. Ou tentamos ignorar que se passa e pensamos que se tratar
de uma qualquer sarna que passará em breve ou corremos um sério risco de
ficarmos doidos e com vergonha do país que somos.
Esta ânsia de fazer limpezas torna legítima uma dúvida, o
país é assim tão corrupto ou há por aí quem na ânsia de ser herói ou heroína do
combate à corrupção não hesite em difamar tudo e todos para que lhes fiquemos
gratos pela limpeza?