segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Espera-se (e exige-se) mais, muto mais de um líder da oposição

De um líder da oposição espera-se que faça oposição e que esta oposição seja consistente, permanente, aproveitando cada momento para afirmar a diferença, espera-se que o líder da oposição seja uma esperança para os que estão sendo penalizados injustamente por uma política bárbara, que denuncie as injustiças, que exija a demissão dos incompetentes. Era isto que muitos esperavam e não viam em Seguro, era isto que os apoiantes de Costa prometiam com a saída de Seguro, mas não é isto que se tem visto.
  
Costa passeia no tempo, aparece de vez em quando como se viesse pedir tremoços, depois ausenta-se e deixa a oposição entregue A Ferro Rodrigues e Vieira da Silva. Nestes dias apareceu, na semana passada apareceu aproveitando a vitória do Syriza e comentando esta vitória de forma tão pouco clara que teve de passar uma semana a explicar o que não tinha dito sem dizer o que, afinal, queria dizer. Neste fim de semana apareceu falando de pobreza, ao mesmo tempo que o Medina veio lançar a sua campanha para a sucessão na câmara. Ainda por cima a mensagem que fica é a de que Costa ficará na autarquia se não ganhar as eleições, isto é, a mensagem de confiança do líder da oposição aos seus eleitores é a de alguém que não confia na vitória e que joga pelo seguro.
  
Mas, por exemplo, em relação às actuações da ministra da Justiça e do ministro da Saúde o líder da oposição foi tudo menos oposição, fica-se com  a oposição de que o líder do PS os considera gente competente e boa, mas com azar. Perante a morte de vários portugueses abandonados que nem cães o PS reagiu com uma estranha condescendência e a grande solução encontrada por António Costa, talvez porque o respectivo capítulo da agenda do século ainda não está escrito, foi a de que se deviam usar as taxas moderadoras como instrumento de gestão na orientação dos doentes, que é como quem diz, venha ao centro de saúde, ali não tem os especialistas nem os meios de diagnóstico mas é mais barato. Com esta brilhante ideia disse que Paulo Macedo não tinha soluções com os actuais recursos, isto é, passou-lhe um atestado de competência. E em relação à ministra da Justiça, um caso de incompetência extrema, fica-se com a sensação que António Costa ainda a convida para o seu governo.
  
No dia a seguir à vitória nas directas do PS muito rapazola manhoso da nossa comunicação social quase apontava uma faca ao pescoço de António Costa para que este dissesse como acabaria com a dívida ou quais as medidas fiscais para 2016, o primeiro ano de um possível governo do PS. Na altura não perguntavam a Passos como vai pagar uma dívida que assegura que vai pagar mas que não para de aumentar e muito menos quais as medidas fiscais para o OE de 2015. Se na ocasião essa era a estratégia manhosa da direita e fazia sentido o silêncio de Costa, convenhamos que perante tanto morto nas urgências não basta sugerir uma suspensão temporária de algumas taxas moderadoras.
  
Para muitos eleitores de António Costa bastará o seu silencio e a garantia de que agenda da década organizada quase em segredo por alguém com um vasto currículo académico, mas isso não faz dele líder da oposição. O que faz dele líder da oposição é ser oposição e falar de forma clara, não dando como tem dado com muita frequência a oportunidade da direita responder. Sucedeu isso, por exemplo, com a questão dos fundos comunitários e agora com a vitória do Syriza.

Costa quase não faz oposição, Jerónimo de Sousa parece o Avô Cantigas a servir um pudim Boca Doce de BES a Cavaco Silva e o BE anda a embebedar-se em Atenas e em Madrid, sonhando com o seu Estado Bloquista no sul da Europa. E enquanto a oposição não o é, tão entretida que anda com o BES com a agenda da década e com o Syriza, Passos Coelho e a direita fazem oposição sistemática ao António Costa enquanto quase deixou de governar, isto é, Passos acumula o cargo de primeiro-ministro em regime de gestão e líder da oposição à oposição quase inexistente de António Costa que em vez de fazer oposição limita-se a ir-se opondo de vez em quando, dantes era ao ritmo semanal com a Quadratura do Círculo, agora é de vez em quando, quando os seus afazeres lhe permitem.