segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Umas no cravo e outras na ferradura



   Foto Jumento

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Chapim-rabilongo [Aegithalos caudatus], Cidade Universitária, Lisboa
  
 Jumento do dia
    
Paula Teixeira da Cruz

A ministra da Justiça revelou toda a dimensão da palavra incompetência, revelou.-se uma ministra manhosa na forma como tem favorecido alguns grupos de interesses e atacado os que não lhe são simpáticos, mostrou princípios questionáveis quando tentou crucificar dois funcionários pelas suas asneiras nos Citius acabando por demitir aqueles em que se apoiou. Percebendo que está literalmente queimada a ministra ensaia agora outras manobras de propaganda, propõe medidas que apenas servem para esquecer o que a senhor é e passar a discutir o que a senhora diz.

É óbvio que as suas propostas para as drogas leves ou as posições sobre as escutas só servem para incendiar discussões, fazendo esquecer aquilo que tem sido enquanto pessoa e enquanto ministra.

«Não gosta da palavra “liberalizar”, prefere “despenalizar” as drogas leves. A ministra da justiça, Paula Teixeira da Cruz defendeu este domingo em entrevista à TSF que as drogas leves deveriam ser vendidas, por exemplo, em farmácias, para que não se alimentasse uma cadeia de crimes associados.

“Está demonstrado, e para mim foi muito claro com a lei seca nos Estados Unidos, que a repressão nessa matéria, a proibição, leva a que se pratiquem aqueles crimes e crimes associados. Nesse contexto, eu entendo que há vantagens em fazer essa liberalização. Embora não goste da palavra. O que estamos a falar é de despenalizar”, afirmou a ministra em entrevista à rádio TSF.

Depois da despenalização do consumo e do porte até determinadas quantidades, a ministra é favorável à despenalização da venda de drogas leves. Diz Teixeira da Cruz que a venda em farmácias, por exemplo, representa não só um ganho para o Estado, mas sobretudo para os cidadãos, porque não alimenta um negócio “profundamente rentável”.» [Observador]

 Apertando as mãos da família real saudita



      
 O desemprego, o FMI e a Grécia
   
«O Governo português congratulou-se com os números do desemprego de 2014. A taxa média anual ficou nos 13,9%. Segundo os responsáveis governamentais nota-se que há uma recuperação, um sinal de que estamos no caminho certo.

Nessa mesma semana, o FMI publicou um relatório em que afirma que, se contarmos com os desencorajados (pessoas que desistiram de procurar emprego, mas que estão disponíveis para trabalhar) e os que trabalham a tempo parcial (pessoas que trabalham a meio tempo porque não conseguem arranjar trabalho a tempo inteiro), a taxa passa, aproximadamente, para os 20,5%. Lembra ainda que essa mesma taxa, em 2008, era de 9,5%. Mais, salienta que se não fosse a emigração em massa, sobretudo desde 2011, estaríamos a falar de outros números. Eu ajudo: de 2011 a 2013 saíram de Portugal cerca de 350.000 portugueses. Como é fácil de perceber, estes nossos compatriotas são gente na força da vida, cerca de 8% da população ativa.

Parece, aliás, que os dados da emigração não preocupam ninguém no Governo, que é natural as pessoas fugirem da sua "zona de conforto".

Façamos, por uma vez sem exemplo, um esforço para não nos lembrarmos desses escorraçados - e um, ainda maior, para não perder a cabeça com os responsáveis governamentais por não nos falarem claramente destes factos. Ora, não contando com eles, usando as projeções de crescimento económico do Governo e do FMI, em 2019 conseguiremos atingir uns extraordinários 18% de desemprego e subemprego reais. Ou, nas palavras do Governo, estamos no bom caminho. Claro está que esta triunfal caminhada terá mais alguns problemas. Prevê-se uma emigração ainda maior e um aumento do desemprego de longa duração causado, entre outros aspetos, por o normal desajustamento dos trabalhadores às novas exigências do mercado de trabalho.

Não é necessário tentar explicar o que significa termos uma comunidade em que o melhor horizonte que tem para os seus cidadãos é de ter daqui a cinco anos um desemprego e subemprego real de cerca 18%, que viu, vê e verá centenas de milhar de pessoas a saírem do país e que vê a pobreza crescer dum modo brutal - uma em cada quatro crianças portuguesas é pobre, há dois milhões de portugueses pobres e em 5 anos há mais 800.000 portugueses pobres. Basta apenas dizer que uma comunidade sem esperança é uma comunidade à beira da morte.

Não estaria a ser justo se afirmasse que o cenário que temos perante nós se deve unicamente à ação deste Governo. Como também seria redutor dizer que todos os males por que passamos se devem às presentes políticas europeias. Nem não fizemos, como comunidade, o suficiente para estarmos a salvo dos terramotos que aconteceram, nem os erros europeus na resposta à crise explicam todas as nossas maleitas. Mas é absolutamente transparente que as respostas que os decisores europeus - que os nossos governantes tão fervorosamente abraçaram e continuam a defender com unhas e dentes - têm para os problemas que atravessamos estão absurdamente erradas. Apetece perguntar, como é possível alguém pensar que a única solução viável para os nossos problemas é gerar agora e no futuro uma multidão gigante de desempregados, emigrantes e pobres?

Não sei se a solução que o novo governo grego pretende para tentar resolver os seus problemas é a melhor. Sei que, qualquer que ela seja, tem de ser negociada e que tem de ir muito para lá da relação entre a Grécia e a Europa: o problema está longe de ser apenas grego, é da Europa como um todo, das soluções encontradas e dos vários desenhos institucionais. Mas há dois aspetos essenciais que os novos governantes gregos - de que, tenho a certeza, vou discordar muito no futuro - trouxeram e que eram e são essenciais: o declarar alto e em bom som que o caminho seguido vai destruir a sua comunidade - e o resto das europeias e a própria ideia da União Europeia, digo eu - e o de porem a discussão no único plano possível, o da política.

Ou seja, o que há para discutir não é se há perdão da dívida ou não, se o pagamento da dívida se deve subordinar ao crescimento económico ou não, se as obrigações perpétuas são viáveis ou não. A questão é: pode uma comunidade manter-se minimamente coesa com taxas de desemprego como as que Portugal ou a Grécia têm (se os dados oficiais portugueses dizem 13,9% e os reais estão estimados em mais de 20%, imagine-se os gregos que oficialmente têm 25% da população desempregada...) e com os níveis de pobreza conhecidos? É a democracia sustentável sem esperança num futuro melhor?

Varoufakis, o ministro das finanças grego, durante a sua estadia na Alemanha, resumiu bem o problema quando disse que ninguém como os alemães conhece melhor os problemas que uma economia severamente deprimida, um povo humilhado e a ausência de esperança pode provocar numa comunidade. É, de facto, isso que está em causa, na Grécia e em grande parte da Europa.
Política, apenas política.» [DN]
   
Autor:

Pedro Marques Lopes.
  

   
   
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