sábado, junho 04, 2011

Balanço de uma campanha eleitoral

Os jornalistas


A actuação dos jornalistas nesta campanha roçou o vergonhoso, muitos jornalistas foram-nos durante a noite, durante a manhã eram bloggers e à tarde eram militantes partidários e ao longo do dia misturaram as funções. A informação foi manipulada, as fotografias criteriosamente escolhidas para favorecer uns e prejudicar outros, foram os jornais a dar as dicas e a antecipar as estratégias partidárias.

A participação cívica

Portugal regressou aos anos 70, ao tempo do boicote dos comícios políticos, só que nesse tempo os líderes dos partidos democráticos eram senhores da democracia e condenaram de forma clara todos os comportamentos anti-democráticos. Desta vez isso não sucedeu, o Presidente da República nem usou o seu Facebbok para fazer um comentário e houve mesmo um líder partidário que em vez de condenar comportamentos fascistas optou por manifestar preocupação em relação à actuação da polícia que se fez dentro dos limites da lei.

O marketing

O marketing do PSD apoiado pela comunicação social e pelos mais diversos instrumentos, incluindo mesmo os altifalantes da cadeia Pingo Doce foi demolidor. Com o seu adversário silenciado pela comunicação social Passos Coelho recuperou de uma situação de derrota.

As empresas

Nem mesmo no tempo do fascismo assistimos ao envolvimento dos grandes interesses empresariais na política como sucedeu nesta campanha, tudo começou com o empenho de Soares dos Santos na destruição de um governo legítimo e no linchamento de um partido democrático, depois foi uma procissão de interesses empresariais acabando com a participação de Belmiro de Azevedo numa arruada, ele a quem nunca tínhamos visto no meio da plebe.

Os órgãos de comunicação social

É difícil acreditar que o comportamento de algumas televisões e jornais resultasse da actuação espontânea dos seus jornalistas, tal coordenação só seria possível com estratégias decididas ao nível da direcção desses órgãos de comunicação social.

Os líderes partidários

Passos Coelho esteve ao seu melhor nível e Sócrates só nos últimos dois dias foi igual a si próprio.

O Presidente da República

Cavaco Silva não interveio tal como prometeu e realçou durante a campanha, o problema é que perante tentativas de boicotes de comícios deveria ter tomado posição apelando ao regular exercício da democracia. Porque ficou calado o Presidente da República?

Os militantes

Nos partidos há milhares de militantes que dão o seu melhor pelos seus ideais sem nada receber em troca, diria que estes são a nata da militância política e a maioria em qualquer dos partidos. Mas também há a borra, gente que aparece e desaparece em função das circunstâncias e nesta campanha foram muitos, apareceu muita borra a apoiar Pedro Passos Coelho e desapareceu muita da borra que num passado recente apoiava José Sócrates. No caso de Sócrates isso foi visível, deputados que abandonaram o parlamento logo que conseguiram o que queriam hibernaram durante esta campanha eleitoral como se já não existissem causas a defender.

Os eleitores

A partir do momento em que Passos Coelho percebeu que o seu programa não seria aceite pelos portugueses atacou com fait divers e com mentiras, como sucedeu, por exemplo, com a falsa nomeação de boys agendada para depois das eleições, falsa denúncia que a comunicação social divulgou intencionalmente como verdadeira, sendo este o momento de inflexão das tendências. Os truques de uma marketeira eleitoral vinda dos trópicos deram resultado num país democrático da velha Europa, sinal de que a maturidade política da democracia portuguesa é duvidosa.

Os resultados

Costuma dizer que em Portugal não são as oposições que ganham mas os governos que perdem, os portugueses não votam em função das qualidades dos que se candidatam, as eleições serão um indicador da “fartação” dos portugueses. Talvez assim seja, mas se as sondagens dos últimos dias indicavam nesse sentido, durante muito tempo derrotavam os candidatos.
O próximo governo

Seja quem for que ganhe destas elições sairá um governo legitimado pelo voto popular e com o direito e a obrigação de cumprir com o seu programa eleitoral.