Ainda a formação do governo vai no adro e por mais que os grupos de comunicação social empenhados no negócio da privatização se esforcem em canonizar Passos Coelho antes deste ter feito qualquer milagre começam a ver-se sinais preocupantes.
Há quem se esforce por elogiar gestos populistas como viajar em classe económica nos voos europeus ou gestos idiotas como chamar o ministro da Economia por Álvaro, mas a verdade é que a formação deste governo começou mal. Cortou-se no número de ministros mas nomearam-se mais dez secretários de Estado donde resulta que não se poupou um tostão, entregaram-se pastas a ministros sem qualificações e nomearam-se secretários de Estado para os ampararem, não se reduziu o número de pastas, antes pelo contrário, foram aumentadas e ao mesmo tempo desqualificadas.
Elogiou-se muito o silêncio durante a escolha dos convites aos novos ministros mas menos de quatro horas de pois de divulgada a lista dos ministros foi divulgada a lista dos que se recusaram a sê-lo, com pormenores como a ida de Passos Coelho à casa de Vítor Bento. Se na divulgação dos nomes dos ministros houve alguma reserva já na nomeação dos secretários de Estado foi o que se viu, só faltou mesmo que o apresentador do boletim meteorológico tivesse divulgado o nome do secretário de Estado da Agricultura entre as previsões para o continente e para as ilhas. Chegou-se ao ridículo de ex-presidentes do PSD se terem entretido a divulgar nomes nos seus tempos de antena pessoais, Marques Mendes e Marcelo começam a parecer a bruxinha e a bruxa de Carnaxide.
Marques Mendes acertou pois apostou num valor seguro do passismo, mas Marcelo serviu mais uma ‘vichyssoise aos seus fãs, divulgou o nome de Bernardo Bairrão para o lugar de secretário de Estado da Administração Interna. Teve azar, já depois de a Media Capital ter comunicado que o seu administrador delegado tinha apresentado a sua demissão Bernardo Bairrão foi saneado ainda antes de ter sido nomeado, uns dias antes tinha cometido um grave delito, ainda era administrador da Media Capital e manifestou-se contra a privatização da RTP.
A central de comunicação ainda não está instalada ainda que a migração de jornalistas para o governo quase justifique o aluguer de um autocarro à CARRIS, mas já são evidentes os sinais de manipulação da informação e, pior do que isso, a repressão, por enquanto subtil, sobre quem ouse divergir da linha governamental. O episódio das viagens em classe económica é um bom exemplo de como se usa a comunicação social, primeiro “alguém” conseguiu que todos os jornais noticiassem que Passos Coelho viajará na Europa como se fosse um monge franciscano, mas quando se soube a TAP nada cobra alguém do governo se apressou a informar que não tinham responsabilidades na divulgação da informação.
Mais preocupante são os sinais de tentativas de promover aquilo que durante muito tempo se designou por ‘asfixia democrática’. Primeiro foi Pacheco Pereira a denunciar a existência de sinais de tentativas de saneamento de comentários desalinhados por parte de comentadores social-democratas ao mesmo tempo que chama a atenção da ‘transumância’ de jornalistas para os gabinetes governamentais. Quase em simultâneo o director-adjunto do jornal Expresso receava “criar-se uma unanimidade nacional e a quase proibição de reparos ou críticas ao Governo (…) que o jornalismo livre e independente não pode nem deve aceitar”
Um governo com ministros sem aptidões para as múltiplas pastas que vão gerir, professores universitários que acham que podem trazer para o governo a cultura de caserna das universidades, jornalistas transformados em políticos para manipular informação, opiniões e sentimentos e um primeiro-ministro que parece ser tutelado por ex.-presidentes falhados do PSD ou pelo que fugiu dos problemas do país para os criar na Europa pode ser um péssimo sinal e faz-nos recear que os próximos tempos não sejam dos mais saudáveis da democracia portuguesa, sente-se no ar a intolerância, a manipulação e a perseguição. ISto começa mal.