sexta-feira, junho 10, 2011

O saque

Mandaria a inteligência que aguardassem em silêncio pelas decisões do futuro primeiro-ministro e pela aprovação do seu programa de governo, que esperassem discretamente pelas decisões governamentais e que evitassem a exposição pública de forma a não criar constrangimentos desagradáveis a Pedro Passos Coelho. Mas a fome é muita e a concorrência é forte, e como dizem que o país está na bancarrota o melhor é “sacar” enquanto é tempo.

Ainda Passos Coelho anda a tentar evitar que Portas mande muito dos seus homens de confiança para a fila do centro de emprego e as manifestações de gulodice são muitas e ninguém esconde que estamos perante uma corrida ao saque do que resta de um Estado que Passos Coelho prometeu reduzir ao essencial. Os que se desdobraram em apoios ao PSD comportam-se como as hordas de mercenários dos exércitos da Idade Média, vencido o cerco impacientam-se para que sejam autorizados a saquear e destruir a cidade durante três dias.

O presidente da Edenred, uma empresa que vende cartões de serviços e que tem contado com a colaboração de Diogo Leite Campos estava tão impaciente que nem esperou que Cavaco indigitasse Passos Coelho, nem parece estar interessado em saber quem vão ser os ministros, arrogante como todos os franceses apressou-se a vir a Portugal e a Lusa foi logo ao seu encontro para o ouvir falar da proposta do professor de direito de converter os subsídios em cartões de débito. Diz o senhor que ganha o país porque cria emprego, ganham os pobres porque aprendem a gastar o dinheiro, só não disse quanto ganhava a Edenred com a conversão dos imensos subsídios estatais (desde os transportes escolares ao rendimento mínimo) em cartões da sua empresa e quanto ganhará Diogo Leite Campos.

Na comunicação a excitação é mais que muita, está em causa a possibilidade de comprar o património da RTP a preço de saldo e de partilhar a sua quota publicitária. Mas o negócio ainda pode render muito mais e José Eduardo Moniz já se lembrou de uma solução para que o saque seja completo, o serviço público até pode ser assegurado por uma empresa privada, brilhante uns ficam com o património e com os canais, outros ficam com a quota de mercado publicitário e a Ongoing sugere ficar com o dinheiro dos contribuintes por conta do serviço público, melhor é impossível.

Compreende-se a imaginação criativa de José Alberto Moniz, Pinto Balsemão tem a sua parte do saque garantida pela sua condição de militante nº 1 reforçada pelo apoio activo a Passos Coelho na campanha eleitoral, o grupo Cofina colocou os seus órgãos de comunicação social ao serviço do PSD, da família Moniz todos conhecemos o papel desempenhado no desgaste da imagem de Sócrates e não é por acaso que tenha emergido na RTP durante a noite eleitoral E no mesmo dia em que Moniz se manifestava os jornalistas que aguardavam na São Caetano à Lapa por notícias deram de caras com o dono do grupo Cofina a sair de braço dado com Miguel Relas.

Bem, talvez eu esteja a ser desconfiado em demasia e toda esta gente está mesmo empenhada em ajudar Passos Coelho a salvar o país da bancarrota, num gesto inédito de generosidade os nossos capitalistas do oportunismo queem redimir-se dos lucros abusivos obtidos no passado e estão a colocar o seu dinheiro à disposição do futuro governo e em troca aceitam o elefante branco da RTP e ajudam os pobres a terem conseguirem mais com o mesmo dinheiro.