Ainda que não passem de mero populismo os sinais de franciscanismo do governo de Passos Coelho são bem vistos pelo povo, poupam-se uns trocos que mal dá para uma casa dos milésimos da dívida mas poderão ser um sinal. Resta agora que Passos Coelho poupe os contribuintes de forma tão exemplar quando vender empresas públicas ou privatizar serviços públicos, um mau negócio dava para muitas canetas de ouro, carros de luxo e viagens em classe turística com direito a gastar mais no hotel do que Durão Barroso gastou em Nova Iorque.
Como é minha obrigação como cidadão desconfiar do poder receio que estes comportamentos não sejam mais do que o boi da piranha, tal como o vaqueiro atira a pileca da manada às piranhas para que a manada passe tranquilamente o rio, desconfio que o mesmo povo que aprova estes exemplos de modéstia não seja depois capaz de calcular os lucros fáceis dos que vão comprar o que é lucrativo no Estado em nome da salvação do país.
Mas se sou desconfiado também tenho a obrigação de confiar que a estes sinais de miserabilismo corresponda uma actuação coerente e que em cada decisão Passos Coelho mantenha o critério que seguiu nestes gestos simbólicos.
Se zipou o governo e com isso poupou um milhão e tal de euros que a sua central de comunicação se apressou a divulgar junto da comunicação social, espero que seja coerente e faça o mesmo ao nível das secretarias de Estado e, mais ainda, na escolha dos adjuntos e assessores governamentais. Não alinho com a vaga populista que exige poucos assessores e adjuntos, um governo para decidir bem deve estudar convenientemente as suas decisões. Defendo antes que o governo deve ser criterioso na escolha do pessoal dos gabinetes e sempre que puder contar com quadros do Estado competentes que os mobilize pois ficam a custo zero, ao contrário dos idiotas vindos dos escritórios e empresas de consultoria que têm enxameado os corredores governamentais.
Espero ainda que Cavaco Silva faça também os seus votos de pobreza e ponha fim à tendência para transformar o Palácio de Belém numa Casa Real de Boliqueime que gasta quase tanto quanto a rainha de Inglaterra e que sem se saber muito bem para o quê tem mais assessores do que um bom par de ministérios juntos. Se estes sinais se estenderem à Presidência da República, aos autarcas, aos generais e almirantes e aos directores-gerais e presidentes dos institutos e fundações serão positivos e contribuirão para a moralização da vida pública e para a respeitabilidade da classe política.
Se estas manifestações não passarem de um franciscanismo anedótico então sugiro que Passos Coelho junte os trocos que poupou, peça a Rua Augusta emprestada ao António Costa e com o patrocínio do Soares dos Santos e do Belmiro de Azevedo ofereça uma sardinhada ao povo pobre de Lisboa.