A esquerda conservadora, os professores, os polícias, os magistrados, o Mário Nogueira, o Santana Castilho, o Manuel maria Carrilho, o pessoal da TAP, os trabalhadores da CP, a Ana Benavente e muitos outros ou queriam um governo de direita ou dizendo que não o queriam tudo fizeram para o ter. Pois os eleitores fizeram-lhes a vontade, agora têm um Presidente da República, um primeiro-ministro, um autarca em muitas das grandes cidades, uma presidente do parlamento, um presidente de um governo regional, todos de direita.
Imagino que o pessoal das escolas esteja contente com a revisão da avaliação e o exame de acesso à profissão, que o sindicato dos quadros técnicos do Estado esteja feliz com as rescisões amigáveis, que o pessoal da TAP já esteja a esfregar as mãos de contentes porque em vez dos recursos ilimitados dos contribuintes vão ter de prestar contas a um patrão, que o pessoal da CP se sinta feliz com a privatização.
E não vale a pena dizerem ao Sócrates para voltar porque está perdoado, nem ele volta nem os eleitores estão dispostos a mais brincadeiras. Também não vale a pena formarem maiorias absolutas na Avenida da Liberdade, o exemplo grego é deprimente e já não contam com o apoio dos autocarros das autarquias do PSD, não vale a pena protestar contra as portagens porque o PSD já deve ter desmobilizado as comissões de utentes, o encerramento dos serviços de saúde para passarem receitas contra a tensão vão mesmo fechar sem a oposição das manifestações espontâneas e aposto que se algum autarca se armar em parvo além do centro de saúde encerra também o município.
Acabaram-se as manifestações espontâneas mobilizadas por SMS para junto das sedes partidárias, acabaram as recepções a delegações dos sindicatos em luta pela direcção do PSD, desapareceram as esperas sistemáticas do Mário Nogueira ao primeiro-ministro em todas as suas deslocações. Como diria Chico Buarque acabou-se a festa pá.
O governo foi eleito, é um governo legítimo, está constituído e já apresentou o programa que será aprovado pela nova maioria. É um bom programa? Não é bom nem é mau, é o programa possível e marcado pelas opções liberais de Passos Coelho atenuadas pela estratégia partidária de Portas. É o programa que todos sabiam que viria a ser o programa de um governo de direita que saísse de eleições, é o programa desejado pelos que queriam derrubar o governo e mudá-lo por um governo de direita liderado por Passos Coelho, está lá quase tudo o que o líder do PSD defendia ainda antes de o BE ter apresentado a moção de censura votada favoravelmente pelo PCP, portanto, a esquerda conservadora tem o que sempre desejou.
Agora é tempo de esperar que a proposta liberal resulte legitimada pelo voto dos portugueses resulte, uma parte das medidas não difere do que já era o programa do PS, de algumas dizem ser melhorias, outras são mais radicais do que as defendidas pelo governo anterior, algumas são bem mais radicais. Resta-nos esperar para rirmos da esquerda conservadora, vê-la organizar manifestações contra as novas políticas em defesa do que está, isto é, daquilo contra o que organizaram manifestações no passado recente.
Como se dizia nos tempos da escola primária “E agora? Agora mija na mão e deita fora!”.