Na perspectiva das classe mais ricas o problema da economia portuguesa resume-se ao desequilíbrio das contas públicas e mais do que o Estado gastar mais do que recebe o mais grave é que tem entre as suas funções a prestação de serviços que podem ser excelentes oportunidades de negócio, ainda por cima negócios sem risco e com co-financiamento com o dinheiro dos contribuintes.
Os accionistas do PSI 20, os donos dos grandes escritórios de advogados, as classes mais privilegiadas em geral o subdesenvolvimento não é um problema e porque são tacanhos até vêm nas assimetrias na distribuição do rendimento a garantia de um enriquecimento fácil e contínuo.
Se o único problema é o das contas públicas e acessoriamente o desequilíbrio externo a solução é fácil, aplica-se o acordo com a troika e aproveita-se o medo colectivo para ir mais longe do que esse acordo abrindo excelentes oportunidades de obter lucros fáceis nos negócios da saúde, dos seguros e dos fundos privados de pensões. É uma oportunidade única, a segurança social tem um cofre abastado e a despesa no SNS é uma imensa fonte de proveitos.
Só que o grande problema da economia portuguesa não são ou não são apenas aqueles desequilíbrios, o grande problema da economia portuguesa é gerais mais pobreza do que riqueza. Quando a economia cresce os ricos ficam mais ricos, quando entra em recessão está em crise os ricos continua a ficar mais ricos ou ainda mais ricos e os pobres ficam mais pobres.
Não tenho dúvidas de que a aplicação do acordo com a troika pode levar a ainda maiores desigualdades e a que estas desigualdades crescentes se projectem por muitos mais anos. Basta ver as propostas da direita para se perceber que palavras como qualificação, universidades, investigação não fazem parte do seu léxico político. Agora fala-se de enxadas, de ordenado mínimo, de desempregar, como se o acordo da troika contivesse alguma cláusula que proíbe os portugueses de debater o seu futuro.
É evidente que nenhum governo pode esquecer desequilíbrios conjunturais e muito menos se estes desequilíbrios têm causas estruturais, mas pensar que se combate os défices endémicos nas contas públicas e na balança comercial conduzindo a economia para modelos de trabalho intensivo, sem grandes qualificações profissionais, é iludir a realidade.
É por isto que não acredito nas propostas da direita e não tanto pela natureza liberal, o problema é que o programa da direita abandona a preocupação pelo desenvolvimento, assenta na crítica feroz a tudo o que cheire a combate a desigualdades sociais, despreza tudo o que seja preocupação com o desenvolvimento tecnológico. Quando Passos Coelho diz em Trás-os-Montes que a agricultura pode ser uma solução para os desempregados está a falar de uma agricultura inviável e a pensar que um jovem licenciado encontra a solução para os seus problemas a produzir batatas com níveis de produtividade do século XIX.
Aliás, as propostas da direita vão mais longe e começam por prometer muito do que de bom pode ter sido feito nos últimos anos. O argumento usado é o ódio a José Sócrates, mas a verdadeira razão é a defesa de um modelo económico miserabilista e a manutenção de um modelo económico e social que à custa do subdesenvolvimento gera o enriquecimento de alguns à custa do empobrecimento de muitos. É por isso que a direita não hesitou em lançar uma crise política irresponsável, não teme as consequências, antes pelo contrário, considera-as positivas. Ao seu lado está uma extrema-esquerda que espera que a miséria crie melhores condições para os seus objectivos políticos.