O governo poderia ter cortado as gorduras do Estado e mesmo
que tivesse esquecido as soluções que propôs ao eleitorado poderia ter cumprido
o acordado com a troika. Poderia ter eliminado muitos serviços, reestruturado o
Estado, acabado com o abuso das fundações privada, como a do merceeiro que usa
os benefícios fiscais para o senhor Soares dos Santos manipular a opinião
pública em favor dos interesses do Pingo Doce. Mas não, o governo optou por
manter organismos do Estado porque as vagas de dirigentes são preciosas para
negociar favores, manter os esquemas de corrupção e empregar boys.
O governo poderia adoptar medidas para acabar com o ambiente
de oligopólio consentido em que vivem muitos mercados, oligopólios que asfixiam
os mercados, desviam os recursos dos consumidores e utilizam parte dos
benefícios na promoção da corrupção. Mas o governo esqueceu-se do combinado com
a troika e tem mantido tudo como estava, chega ao ponto de financiar o capital
dos bancos privados sem se assegurar da sua presença na gestão desses bancos
para se assegurar de que os dinheiros públicos serviam para financiar a
economia. Em troca desta passividade aceitou vagas de administrador não
executivo para empregar mais alguns boys de luxo.
O governo poderia ter feito o combinado com a troika e
redesenhado o mapa do país, acabando com o excesso de municípios. Mas em vez de
acabar com a estruturas que mais gastam e pior gastam o governo preferiu manter
a teia de interesses que alimentam os partidos e tentam enganar a troika
eliminando meia dúzia de freguesias, precisamente as autarquias que menos e
melhor gastam.
O governo poderia ter reduzido a despesa pública, as tais
gorduras de que tanto falou, mas preferiu ficar aquém da troika, em vez de
reduzir as gorduras optou por as manter pois são preciosas na hora de alimentar
a corrupção, para as compensar optou por cortar uma parte dos rendimentos dos
funcionários públicos e dos pensionistas.
O governo poderia renegociar as PPP e, por uma questão de justiça
e equidade, aplicar às empresas que ao longo de décadas enriqueceram com os
mecanismos corruptos do Estado os mesmos critérios de ordem constitucional que
considerou ao avaliar os direitos dos cidadãos. Mas não, o governo prefere
ficar aquém da troika e esquecer tudo o que os seus membros disseram no passado
para não questionar o lucros abusivos de algumas empresas, os partidos do
governo parece só agora terem percebido que os donos dessas empresas são seus
amigos e que os benefícios indevidos que obtiveram poderão dar para muitas
coisas.
A retórica do ir para além da troika de que Passos Coelho
tanto gosta de se gabar parece que só se aplica aos que não têm como corromper
político, é mais ou menos o que se passa com a política económica assente no
empobrecimento forçado, só empobrece os que não têm nem nunca tiveram dinheiro
para comprar políticos.
A actual política económica está a desviar-se do acordado com a troika, desta forma conseguem-se recursos adicionais para que os seus beneficiários os possam repartir generosamente com políticos, ao mesmo tempo que se alimenta um modelo económico pouco competitivo com a competitividade extraída da miséria a que estão sendo condenados os trabalhadores.