Muitos países para além da bandeira e do hino nacionais
escolhem símbolos entre as aves, as flores, os animais ou outros elementos da
natureza , os EUA têm a águia, os ingleses a rosa, os australianos o canguru.
Portugal não tem nenhum símbolo para além dos tradicionais hino e bandeira, mas
se nestes tempos de nacionalismo futebolístico se escolhesse um sem dúvida que
a escolha teria de recair nessa personagem que tão bem encarna os valores de
muita gente desta nação, o graxista.
A graxa é um instituição nacional aprendida nos bancos da
escola, o aluno mais querido do professor é o graxista, o jovem mais promissor
nas jotas partidárias o graxista, o funcionário público ou empregado mais
promissor é o graxista. A graxa é não só uma das qualidades mais apreciadas
neste país como é também uma instituição nacional praticada ao mais alto nível.
É pena que sendo tão importante para o funcionamento das instituições nacionais
e para o relacionamento humano e organizacional não tenha sido ainda
devidamente estudada por sociólogos, gestores, cientistas políticos, psicólogos
e até por médicos ortopedistas pois, como se sabe, deverá haver uma forte
correlação entre a graxa e a grande incidência de bicos de papagaio.
A graxa é de tal forma um valor nacional que o próprio
governo fazer dela instrumento político, por isso vemos o Gaspar embevecido elogiando
o seu primeiro-ministro ao lado dos rapazolas da troika ou inclinado sobre o
ministro das Finanças da Alemanha. Até tem o estatuto de política nacional como
se pode ver pela forma como um país à beira do colapso apoia a política da
senhora Merkel.
O graxista é alguém com uma coluna gelatinosa que não se
importa de perder a dignidade em troca de benefícios pessoais, colectivos ou
mesmo nacionais, é uma forma benigna de corrupção moral não admirando que num
país conhecido pela corrupção também se tenha de conviver com a graxa. Sendo
uma forma de corrupção de valores e por isso é benigna a graxa não atinge apenas
pessoas, afecta o comportamento de instituições e mesmo a nação. Veja-se a
postura do nosso governo em relação à Grécia, no que é secundado por
jornalistas, opinion makers, presidente e demais elites, passa-se a mão pelo
pêlo dos alemães afirmando-se que os portugueses são dóceis e obedientes, ao
contrário dos gregos que são insubordinados e incumpridores, esperamos que ao
mesmo tempo que condenem a Grécia nos compensem com uma guloseima.
Um bom exemplo de graxa é o de algumas instituições que em
defesa dos seus próprios interesses corporativos usam a graxa como forma de se
defenderem. Quando os governos estão em queda os mesmos que foram graxistas
tornam-se críticos e agressivos, quando entra um novo governo em funções, para
se assegurarem que as mordomias, subsídios abusivos e estatutos de excepção em
relação às medidas de austeridade sejam mantidos, multiplicam-se em gestos de apoio,
ignoram os seus erros e dedicam-se a produzir relatórios críticos para o
governo que caiu.