quarta-feira, junho 27, 2012

Keynesianos novos


Quem ouve Cavaco dizer que o país não suporta mais austeridade fica com a sensação de que todos os portugueses foram igualmente atingidos por essa austeridade. A crer no discurso de Cavaco Silva os mais ricos não suportam mais austeridade sem que fique em risco a sua disponibilidade para investir, a classe média não pode ser mais atingida sob pena de desparecer e os mais pobres já estão no limiar da fome. Mas este discurso encerra uma mentira, o esforço exigido aos portugueses não foi distribuído de forma equitativa, a  austeridade foi selectiva e discriminatória, tal só foi possível porque Cavaco assinou de cruz o corte dos subsídios, não se tendo empenhado em procurar indícios de inconstitucionalidade.
  
Os jornais que há um par de meses faziam de gorilas de apoio à pinochetada económica imposta por Passos e Gaspar ao país, são agora fortes opositores de mais austeridade, de repente descobriram as vantagens do crescimento económico, os que há odiavam Keynes parecem agora católicos apostólicos romanos convertidos à Santinha da Ladeira. São todos defensores desde a primeira hora de medidas de crescimento.
  
Mas esta rapaziada não deixou de ser ultraliberal nem estão tão preocupados com os mais pobres ou com a classe média, a verdade é que pimenta no cu dos outros sabe a refresco e enquanto a austeridade foi selectiva e não os atingia foram granes defensores da teoria do empobrecimento, agora que o gasparismo económico falhou e o desvio colossal existe mesmo deixaram de ser liberais para aparecerem como a vanguarda do keynesianismo.
  
É mentiram que os portugueses não suportam mais austeridade e é falta de honestidade fazer de conta que todos foram atingidos de igual forma pelos excessos do Gaspar. Cavaco Silva e os rapazolas que agora andam muito keynesianos sabem muito bem que a besta de carga desta política têm sido os funcionários públicos e os pensionistas. Este discurso é uma canalhice pois tenta fazer esquecer que uma parte dos portugueses foi eleita para ser sacrificada.
  
Enquanto os funcionários públicos e os pensionistas foram sacrificados ninguém questionou os limites para a austeridade, agora que o gasparismo (uma política económica que mais não é do que a política de Augusto Pinochet foram do tempo e do espaço) e o país está muito pior do que Paulo Portas diz aos seus militantes na carta que lhes escreveu, é que dizem que os portugueses não suportam mais austeridade. Pois, seria muito injusto ir buscar o dinheiro que os vigaristas do BPN roubaram, acabar com as fundações que apenas visam a evasão fiscal, coitados.
  
É bom lembrar que o corte dos subsídios foi justificado por Passos Coelho com o falso argumento de que os funcionários públicas ganharia mais, não só usou uma mentira descarada como aplicou a medida aos pensionistas independentemente de terem sido ou não funcionários públicos. A estratégia foi oportunista, visava dividir os portugueses e superar a crise financeira à custa daqueles cujo voto era dispensável.
  
Como era de esperar muitos dos que se escaparam à austeridade ficaram em silêncio, a estratégia manhosa estava a resultar, ninguém veio a público defender que em vez de serem alguns a perder dois subsídios deviam ser todos a perder apenas um. Não se ouviram grandes protestos, instalou-se o cinismo à escala nacional.
  
Mas a estratégia falhou, o ministro das Finanças revelou-se incompetente, o primeiro-ministro é um iletrado em matéria de política económica e se o excesso de austeridade bateu à porta de apenas alguns, as consequências desta política desastrada está a bater à porta de todos. A situação financeira é hoje mais grave do que era e ou os que foram isentos de austeridade se sujeitam às medidas que apoiaram quando foram aplicadas aos outros ou discorda-se da senhora Merkel e defende-se o crescimento como solução. Estes keynesianos lembram-nos os que descobrem deus no leito da morte.