Em Janeiro o país era um caso de sucesso, em Fevereiro nem
se queria pensar em derrapagens orçamentais e mesmo sem estas o mais do que
provável segundo resgate era negado, em Março afirma-se que Portugal não
precisava nem de mais dinheiro nem de mais tempo para se desenrascar, em Abril
as receitas orçamentais estavam em linha com as previsões, em Maio descobriu-se
um erro que fazia disparar a queda das receitas mas podíamos ficar descansados
porque isso não efectava o défice, em Junho o incompetente do Gaspar chegou à
brilhante conclusão de que estamos com a corda ao pescoço outras vez. Mas não
foi por causa do excesso de austeridade, pelo aumento exagerado do IVA nalguns
produtos e sectores, não, foi tudo culpa das adversidades mundiais e de um
estranho comportamento do IRC. Gaspar é um Deus e o país reza a este Deus que
vive do dogma da competência.
O país ficou descansado, não vai perder um dos mais belos,
inteligentes e brilhantes políticos da nova geração que chegou ao poder, Miguel
Relvas foi declarada inocente. O ministro não fez qualquer chantagem sobre a
jornalista e se o fez foi impossível provar o que vai dar na mesma. Temos um
político inocente que estava a ser vítima de uma jornalista mal intencionada e
mentirosa.
Cavaco Silva, o administrador do condomínio desta quinta da
Coelha em que vivemos andou em busca de indícios de inconstitucionalidade na
legislação laboral e não os encontrou, pelo que promulgou a legislação
resultante de um acordo estranho em que ele próprio se envolveu na magistratura
de influência, a que alguns poderão chamar magistratura da pressão. Só é pena
que noutros casos o administrador do condomínio não tenha procurado pelos tais
indícios de inconstitucionalidade. Temos um presidente que umas vezes procura
indícios e outras ignora inconstitucionalidades mais do que evidentes.
Havia qualquer coisa de errado na privatização da REN,
parecia que ao contrário do que sucedeu na EDP a venda de capital ao Partido
Comunista Chinês não dava lugar à contratação de mais uns guardas laranjas, o
equivalente luso dos guardas vermelhos chineses. Mas podemos estar descansados,
a REN reencontrou a normalidade e a privatização foi devidamente oficializada
com a entrada de José Luís Arnaut, um conhecido gestor da praça, para a
administração.