Num tempo longínquo Portugal ia aos mercados comprar
dinheiro para emprestar à Grécia e os mesmos jornalistas que agora dizem cobras
e lagartos do governo anterior ao mesmo tempo que se deliciam a lamber
ministros como o Relvas como se fosse um gelado até sugeriam que Portugal ainda
ganhava algum.
Vejamos o que dizia o pasquim dos amigos secretos do Miguel
relvas nesse ano longínquo de 2010:
«Apesar da difícil situação financeira do País, o Governo
português decidiu ontem participar no mecanismo de empréstimos bilaterais da
zona euro à Grécia, que pode atingir 30 mil milhões de euros. De acordo com a
chave de repartição acordada, Portugal terá de emitir dívida pública para
cobrir um empréstimo de até 774 milhões de euros a Atenas, reembolsado a uma
taxa ligada à Euribor e que neste momento seria de 5%. Pelas actuais condições
de mercado a que Portugal tem colocado a sua dívida, esta operação pode até
resultar rentável para o Estado, ao longo dos três anos de duração desse
crédito.» [Diário Económico]
Alguém se recorda de vir algum conhecido economista avisar
que já tinha avisado?
Alguém viu o Gaspar ir a alguma reunião do FMI defender que
os portugueses fossem castigados com o empobrecimento forçado?
Alguém viu o Álvaro comentar o empréstimo no seu blogue ou o
Passos Coelho opinar sobre as diferenças entre Portugal e a Grécia?
É bom reler esta notícia para se perceber o que está
sucedendo na Europa, para entender o cinismo das política e dos políticos que
se aproveitaram da crise financeira internacional para conquistarem o poder ou
para implementarem as suas ideias mesmo contra a vontade dos seus concidadãos.
Nesse tempo Portugal estava muito melhor do que a Grécia, a
Irlanda era o exemplo de todas as virtudes, a Espanha era o exemplo de país que
fazia o trabalhão de casa a tempo e horas, a Itália era um a potência
económica, a Holanda vivia na fartura que entra por Roterdão, a Bélgica
funcionava mesmo sem governo e do Chipre ninguém falava.
Agora não há país europeu que não esteja melhor do que o
vizinho, a excepção é a Grécia que está pior do que todos e que insiste em
praticar a democracia em vez de seguir o sábio pensamento de Rui Rio acerca do
funcionamento da democracia em autarquias endividadas.
Nesta Europa onde tanto se falou em integração e em coesão
os países já não se afirmam pelas diferenças culturais ou mesmo pelas línguas, nem sequer as
fronteiras importam, os países europeus afirmam as suas diferenças recorrendo
às agências de rating. N a Alemanha pouco importa que se fale alemão ou que
este povo exemplar e trabalhador beba cerveja até ao coma, o que importa é que
são AAA. Os gregos não têm história, os portugueses não contaminaram o
dicionário de todo o mundo, são lixo, BBB, BBB- e outras coisas do género.
É um pouco o que se passa com os cidadãos portugueses,
Portugal é lixo mas cá dentro há os Catrogas e os Borges que são AAA e
enriquecem à custa dos outros e há os que trabalham e para esta gente são BBB-,
lixo social que ou trabalha em regime de escravidão ou está no desemprego e o
melhor que têm a fazer é emigrar a desocupar o país.
Era uma vez um país onde se era português e onde se tinha
orgulho de o ser, ainda que já nesse tempo os jornalistas da Ongoing estivessem
mais interessados em saber que Portugal iria ganhar uns trocos à custa da
desgraça grega do que em perceber que essa desgraça haveria de nos bater à
porta.