Anda por aí muita gente a sugerir que os gregos abandonem o
euro no pressuposto de que se não obedecerem à senhor Merkel estão a mais na
zona monetária do novo marco alemão. Na imprensa especializada internacional
multiplicam-se os que defendem a saída dos tesos do euro.
Há quem defenda que a saída do euro é a única forma destes
países recuperarem a competitividade pois podem recorrer ao instrumento da
desvalorização como forma de promoverem as suas exportações e reequilibrarem as
contas com o exterior. Esta posição revela ignorância e estupidez.
Anda muita gente esquecida de que antes de existir o euro
havia uma coisa chamada Sistema Monetário Europeu que obrigava ao respeito de
algumas regras e que determinava que as taxas de câmbio entre as diversas
moedas poderiam evoluir livremente dentro de um determinado intervalo que se
designava por serpente monetária.
Essa gente parece ignorar que nesse tempo ainda existiam
fronteiras e que as mercadorias estavam sujeitas a formalidades aduaneiras e
que no caso dos produtos agrícolas o sistema de preços funcionava graças às
correcções da evolução das moedas em relação ao ecu através da aplicação de
Montantes Compensatórios Monetários nas trocas intracomunitárias, devendo estes
montantes ser acrescidos aos direitos nas trocas com os países terceiros.
Esta gente revela ainda uma crise de memória pois esquecem
que a desvalorização não foi o único instrumento utilizado para conter as
importações, em Portugal as desvalorizações eram completadas com um controlo
rigoroso das importações com recurso a um sistema de contingentação.
Admitir que a desvalorização da moeda é uma solução fora do
euro significa que os Estados-membros que não participam do euro podem ganhar
competitividade em relação aos parceiros comerciais recorrendo a desvalorizações,
isto é os países-membros da EU poderiam passar a competir com os seus parceiros
da União recorrendo ao truque do dumping social forçado que é aquilo que se
produz com uma desvalorização.
Isto significa que os portugueses desvalorizavam o escudo e
os seus produtos iriam destruir as empresas concorrentes de Espanha.
É evidente que no dia seguinte a Espanha seria obrigada
defender o restabelecimento das fronteiras intracomunitárias e a aplicação de
direitos nas trocas com Portugal. Se a tendência é para que várias moedas
abandonem o euro e a alteração das taxas de câmbio passem a ser um instrumento
de política monetária nos países que não pertencem ao euro, é evidente que será
necessário adoptar regras monetárias para a relação entre estas moedas e entre
estas e o euro.
Por outro lado é uma ilusão pensar que é possível
reequilibrar as contas com o exterior recorrendo às desvalorizações, ao mesmo
tempo que se permite a sangria dos recursos nacionais para a importação de bens
de luxo provenientes da França ou Alemanha. Aliás, uma das consequências das
políticas brutais de austeridade é uma redistribuição do rendimento em favor
dos mais ricos, algo que para a Alemanha, por exemplo, significa um aumento nas
exportações em automóveis de luxo.
Não basta austeridade e desvalorização, será necessário
contingentar as trocas, tudo junto significa que a saída do euro não é solução
e conduzirá necessariamente à saída da União Europeia.