sexta-feira, junho 15, 2012

Sair do euro e da UE


Anda por aí muita gente a sugerir que os gregos abandonem o euro no pressuposto de que se não obedecerem à senhor Merkel estão a mais na zona monetária do novo marco alemão. Na imprensa especializada internacional multiplicam-se os que defendem a saída dos tesos do euro.
  
Há quem defenda que a saída do euro é a única forma destes países recuperarem a competitividade pois podem recorrer ao instrumento da desvalorização como forma de promoverem as suas exportações e reequilibrarem as contas com o exterior. Esta posição revela ignorância e estupidez.
  
Anda muita gente esquecida de que antes de existir o euro havia uma coisa chamada Sistema Monetário Europeu que obrigava ao respeito de algumas regras e que determinava que as taxas de câmbio entre as diversas moedas poderiam evoluir livremente dentro de um determinado intervalo que se designava por serpente monetária.
  
Essa gente parece ignorar que nesse tempo ainda existiam fronteiras e que as mercadorias estavam sujeitas a formalidades aduaneiras e que no caso dos produtos agrícolas o sistema de preços funcionava graças às correcções da evolução das moedas em relação ao ecu através da aplicação de Montantes Compensatórios Monetários nas trocas intracomunitárias, devendo estes montantes ser acrescidos aos direitos nas trocas com os países terceiros.
  
Esta gente revela ainda uma crise de memória pois esquecem que a desvalorização não foi o único instrumento utilizado para conter as importações, em Portugal as desvalorizações eram completadas com um controlo rigoroso das importações com recurso a um sistema de contingentação.
  
Admitir que a desvalorização da moeda é uma solução fora do euro significa que os Estados-membros que não participam do euro podem ganhar competitividade em relação aos parceiros comerciais recorrendo a desvalorizações, isto é os países-membros da EU poderiam passar a competir com os seus parceiros da União recorrendo ao truque do dumping social forçado que é aquilo que se produz com uma desvalorização.
  
Isto significa que os portugueses desvalorizavam o escudo e os seus produtos iriam destruir as empresas concorrentes de Espanha.
  
É evidente que no dia seguinte a Espanha seria obrigada defender o restabelecimento das fronteiras intracomunitárias e a aplicação de direitos nas trocas com Portugal. Se a tendência é para que várias moedas abandonem o euro e a alteração das taxas de câmbio passem a ser um instrumento de política monetária nos países que não pertencem ao euro, é evidente que será necessário adoptar regras monetárias para a relação entre estas moedas e entre estas e o euro.
  
Por outro lado é uma ilusão pensar que é possível reequilibrar as contas com o exterior recorrendo às desvalorizações, ao mesmo tempo que se permite a sangria dos recursos nacionais para a importação de bens de luxo provenientes da França ou Alemanha. Aliás, uma das consequências das políticas brutais de austeridade é uma redistribuição do rendimento em favor dos mais ricos, algo que para a Alemanha, por exemplo, significa um aumento nas exportações em automóveis de luxo.
  
Não basta austeridade e desvalorização, será necessário contingentar as trocas, tudo junto significa que a saída do euro não é solução e conduzirá necessariamente à saída da União Europeia.